Enrique Márquez é conhecido como líder de uma Oposição mais moderada ao regime de Nicolás Maduro na Venezuela, distante da alternativa pleiteada pelo grupo de María Corina Machado. Mas nem esse perfil escapou à repressão. Márquez está desaparecido desde a madrugada desta quarta-feira (8), dizem amigos e familiares.
O político foi candidato à Presidência nas últimas eleições, marcadas pelo descrédito, e depois pediu a divulgação das atas para comprovar os atestados resultados que o regime divulgou. Às vésperas da posse de Maduro, marcada para esta sexta-feira (10), ele foi levado por homens encapuzados na rua. Uma nova onda de detenções entrou em prática.
Horas antes, a Espacio Público, respeitada ONG que atua pela liberdade de expressão e na defesa de jornalistas em um país onde a perseguição a profissionais de imprensa é conhecida, afirmou que seu diretor-executivo, Carlos Correa, também estava desaparecido.
Testemunhas relataram que o ativista foi abordado no Centro da capital Caracas por homens encapuzados que se presumiam ser oficiais de segurança do regime. Não há notícias de Correa. É o modus operandi do regime, habituado a deter ativistas, não dar notícias a familiares e impedi-los de ter acesso a defesa nos primeiros dias de prisão.
A onda de prisões levou a mais uma manifestação do presidente da Colômbia, Gustavo Petro, o vizinho mais importante da Venezuela ao lado do Brasil. Desta vez, mais contundente: Petro disse que, diante disso, sua ida à posse de Maduro é inviável.
“Não podemos reconhecer as eleições, que não foram livres”, disse ele. Mas ponderou que “não romperemos relações com a Venezuela, nem vamos interferir nos assuntos internos o país se não formos convidados”.
A tentativa colombiana e brasileira de operar um diálogo em Caracas até aqui fracassou.
Ainda antes, o principal grupo opositor, o Vente Venezuela, da líder María Corina, afirmou que dois de seus diretores no Estado de Trujillo, no Oeste do país, também foram levados de suas casas por oficiais de segurança. Não há notícias de Marianela Ojeda e Francisco Graterol.
Também nesta terça-feira (7), o ex-diplomata Edmundo González, que disputou a eleição contra Maduro e que projetos de checagem dizer ser o verdadeiro eleito, afirmou que seu genro foi detido em Caracas.
González vive asilado em Madri e, no momento da detenção, estava em Washington, reunindo-se com autoridades do governo cessante e da futura administração de Donald Trump. Agora, está no Panamá.
Mas uma de suas filhas seguiu vivendo em Caracas, a despeito do temor. Em uma conta recém-criada no X, ela disse que seus filhos “sentiram a ausência do pai, assim como mais de 2 mil familiares de presos políticos que foram detidos no país após o dia 28 de julho e cujo único delito foi ser fiel a seus valores democráticos”.
Ao longo das últimas duas semanas, a ditadura voltou a operar sua conhecida prática da “porta giratória”, quando presos políticos são soltos, em grupos, em uma tentativa de aliviar aos olhos do mundo a imagem da autocracia sul-americana. Mas nos últimos dois dias esse movimento se inverteu, com mais detenções.
Se no pós-eleição foram presos cidadãos comuns que participaram de protestos contra o resultado oficial, anunciado sem lastro de provas, agora são presos mais dirigentes políticos, ativistas e ex-candidatos. A principal ONG voltada para o tema, a Foro Penal, calcula que haja ao menos 1,8 mil presos políticos, dos quais ao menos 160 são militares.
Políticos que não foram detidas estão sendo vigiados. Chavista, mas anti-Maduro, o ex-prefeito de Caracas Juan Barreto compartilha fotos de homens encapuzados e armados nos arredores de sua casa.
Aliado político de Enrique Márquez, ele foi outro dos que criticaram o fato de o Supremo do país, dominado por aliados do regime, ter validado a eleição de Maduro, escapando às suas funções originais.
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A opositora María Corina também afirma que a casa onde vive sua mãe, Corina Pérez, está sendo vigiada. Trata-se de uma senhora idosa, que anda em cadeira de rodas e tem cuidadoras. María Corina, por sua vez, está refugiada em um local desconhecido, que acredita-se ser uma embaixada.
O regime chavista tem ampliado a vigilância militar. Maduro anunciou nessa terça a convocação do que chamou de um “Órgão de Defesa Integral para garantir a paz”. Órgãos oficiais do regime disseram ser um grupo formado pelas Forças Armadas, pela Milícia Bolivariana (corpo de civis com treinamento militar, os chamados “coletivos”) e palas polícias.
A ditadura prepara o terreno para impedir qualquer manifestação no dia da posse. Edmundo González, que nessa quarta se reuniu com o presidente do Panamá José Raúl Mulino, outro líder regional que o reconhece como presidente eleito, diz que irá ao país no dia. Como? Não se sabe.
Fonte: Jornal de Brasília
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