O Ibira-pema, ivirapema, ivirapeme, tacape ou tangapema era o porrete de madeira com que os tupis que habitavam a maior parte do litoral brasileiro no século XVI matavam seus prisioneiros de guerra. Media mais de uma braça de comprimento. Costumava ser pintado e decorado com penas.
Como destacam os antropólogos Eduardo Viveiros de Castro e Manuela Carneiro da Cunha só havia uma verdadeira obstinação imutável nos tupinambás: a vingança.
E essa deveria ser plena, seguindo um ritual cujo ápice era a cerimônia festiva em que o inimigo era devorado. O canibalismo era um elemento central na vida guerreira tupinambá. Havia um protocolo para a realização da vingança, uma sequência elaborada descrita com detalhes por diversos cronistas, como André Thevet , Jean de Léry e Hans Staden. Após ter vivido alguns meses, ou até anos, entre seus captores, o prisioneiro era abatido em praça pública.
Mas antes do golpe derradeiro, o prisioneiro travava uma conversa final com seu algoz, conforme Jean de Lery descreveu: “Não és tu da nação chamada Margaias, quem é o nosso inimigo? E você mesmo não matou e comeu de nossos pais e amigos?” Ao que o prisioneiro deve responder: “Já matei e já comi muitos amigos desse que me fez prisioneiro. Sou forte e poderoso. Fui eu quem, inúmeras vezes, pus a correr a vós, que não entendeis nada de guerra”. E termina dizendo: “Meus parentes me vingarão”. Aí então tudo ficava às claras.
O prisioneiro seria comido porque, anteriormente, já havia vitimado e comido os parentes e amigos dos que agora o prendiam. Mas antes de ter a carne devorada, deixava prometido um revide: seus parentes voltariam e pagariam na mesma moeda. A carne do morto era distribuída entre os visitantes e os membros da aldeia, em uma festa antropofágica cujo verdadeiro objetivo era a vingança.
O golpe da ibirapema deveria ser preciso e a morte, instantânea. Para isso se preparava o guerreiro Tupinambá, e sua glória e fama entre os seus dependia em parte do sucesso desse golpe. Era fundamental, portanto, que sua ferramenta, o tacape ritualístico, fosse o mais adequado à execução da tarefa. Por esse motivo a ibirapema era feita da madeira mais dura que havia à disposição dos índios brasileiros, o pau-ferro.
Da redação do www.startcomunicacaosl.com.br/ Pesquisa: Bado Jacoby
Comments