O bem nutrido, de faces redondas e rosadas cardeal Reinhard Marx, membro do Conselho de Cardeais, coordenador do Conselho para a Economia da Santa Sé e ex-presidente da Conferência Episcopal Alemã, apresentou sua renúncia como arcebispo de Munique.
“Basicamente, para mim, trata-se de assumir a corresponsabilidade pela catástrofe dos abusos sexuais perpetrados pelos representantes da Igreja nas últimas décadas”, escreve ele em carta ao papa. E reconhece que “houve erros pessoais e administrativos, mas também uma falha institucional e sistemática”. Acrescenta, que “alguns na Igreja não querem aceitar este aspecto da corresponsabilidade e com ele a concomitância da culpa da instituição, assumindo uma atitude hostil em relação a qualquer diálogo de reforma e renovação em relação à crise do abuso sexual”.
Mas, o papa Francisco, não aceitou a renúncia. E pelo visto, dispensou seus assessores, pois respondeu em espanhol à carta do cardeal alemão. É sinal que não domina o alemão. Mas, olhem o que diz o chefe da Igreja Católica: “primeiramente, obrigado por tua coragem. É uma coragem cristã que não teme a cruz, não teme se esvaziar de si diante da tremenda realidade do pecado. Assim fez o Senhor (Filipenses 2, 5-8). É uma graça que o Senhor te deu e vejo que você a quer assumir e custodiar para que dê frutos”. E segue dando voltas, com uma carta extensa, sem dizer nada de concreto.
Putz! O cara foge da raia, pede as contas porque está enfrentando atitudes hostis, e o papa vem dizer que o sujeito “não teme a cruz”. Pior ainda: “é uma graça que o Senhor te deu”. Ainda que se entenda como um trocadilho infame, é impossível não perguntar: mas onde está a “graça”?
A intrigante coincidência é que a renúncia e sua recusa ocorreram no tempo de “pentecostes”, efeméride religiosa consagrada à divindade Espírito Santo, a cujo poder de inspiração credita sua força o cristianismo. As cartas do cardeal e do papa, todavia, não fazem menção alguma a tal inspiração e muito menos a medidas divinas ou humanas para reprimir abusos de pedofilia na Igreja.
Mas, é compreensível. Por conta da pandemia, os governos proibiram eventos religiosos e não deram chance a milagres de Pentecostes.
João Eichbaum, é escritor e cronista
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