Em 25 de dezembro de 336, em Roma, ocorreu a primeira celebração de Natal. Os cristãos puderam exercer abertamente seus cultos pois o cristianismo havia sido liberado no Império Romano (Edito de Milão, em 313). Pouco tempo depois, o papa Júlio I (pontificado de 337 a 352) formalizou o 25 de Dezembro como data do Natal pela Igreja Católica. A Igreja Ortodoxa levou mais tempo para aceitar a data e, mesmo assim, ela foi adotada aos poucos por cada igreja oriental: Constantinopla e Capadócia, em 380, Antioquia, em 386,
Alexandria, em 432, Jerusalém, em 439. Com a oficialização do cristianismo pelo Edito de Tessalônica, de Teodósio, em 380, o Natal tornou-se comemoração do império. Foi por essa época, também, a escolha do domingo, o Dies Solis como Dies Dominicus, Dia do Senhor. A escolha do domingo se deu pelo fato de Jesus ter ressuscitado no primeiro dia da semana, aquele dedicado ao sol, o Dies Solis. O domingo, Dia do Senhor, foi declarado dia obrigatório de descanso para disputas legais, para negócios e cobrança de dívidas, ordenando que aqueles que não cumprissem o edital fossem considerados sacrílegos.
Saturnálias e o culto a Mitra, o Sol Invicto
As origens do Natal cristão remontam às festas romanas Saturnálias, em homenagem ao deus Saturno (ou Krono, para os gregos), muito populares no Império Romano. As celebrações começavam no dia 17 de dezembro e duravam uma semana. Acreditava-se que nesse períodos, as divindades vindas das profundezas vagavam entre os vivos e que deviam ser recebidas com banquetes, sacrifícios e trocas de presentes para garantir a primavera. Durante as festas, a ordem social era subvertida: os escravos podiam se considerar temporariamente livres e se comportar como tal, e os patrícios os serviam, então.
Ao final delas, ocorria a homenagem a Mitra, o deus Sol Invicto, (“sol invencível”) culto procedente da Síria e introduzido pelo imperador Aureliano no ano 274. Depois de vencer o exército da rainha Zenóbia, de Palmira, na Síria, em 272 a.C., o imperador Aureliano foi ao templo local de Mitra para agradecer a vitória. Mitra era, então, uma divindade popular no Império , especialmente entre os soldados.
Aureliano transferiu o culto de Mitra para Roma, erigiu-lhes templos (em Roma tinha pelo menos quatro) com sacerdotes e tornou-o um culto oficial com uma data de comemoração: 25 de dezembro, natalis del Sol Invictus. Ele também instituiu jogos em homenagem ao deus sol, realizados a cada quatro anos a partir de 274 d.C.
O 25 de Dezembro foi, portanto, inserido no calendário civil romano como o Dia do Sol Invencível, que triunfa sobre a escuridão. A data marcava a virada do solstício de inverno, quando a luz do dia começava a aumentar gradativamente.
O culto ao Sol Invicto foi celebrado até o Edito de Teodósio, no ano 380, que estabeleceu o cristianismo como única religião do império proibindo todas as demais. A partir de então, o Sol Invicto foi absorvido e transformado pelos cristãos como representação simbólica do “nascimento da luz do mundo”, Jesus Cristo, o “verdadeiro” Sol Invicto.
Jesus, a luz do mundo: um Sol Invicto disfarçado?
A terminologia relacionada à luz – lâmpada, fogo, estrelas, lua e Sol – refere-se antes de tudo à sua realidade física. Esses termos se tornaram metáforas ou símbolos, assumindo significados mais amplos e complexos. Por exemplo a luz que se opõe às trevas e, a partir daí, a luz símbolo da verdade, do conhecimento, da consciência que se opõe às trevas da ignorância e da mentira. Essa analogia é muito antiga. Já entre os povos da Mesopotâmia, atribuia-se ao deus do sol Shamash a tarefa de garantir a justiça e o cumprimento dos acordos. Na estela de Hamurabi, mostra o rei babilônico recebendo as leis de Shamash.
A relação entre Deus judaico e o Sol como Justiça aparece nos profetas do Velho Testamento: “Para vós que temeis meu nome, levantar-se-á o Sol da Justiça e seu raios trarão cura… no dia em que eu manifestar meu poder, você esmagará os ímpios” (Malaquias, 3: 20-21). A imagem da justiça de Deus como estrela brilhante repete-se em Isaías (30: 26 e 62: 1) e no livro da Sabedoria (5: 6).
O simbolismo de Jesus como luz reaparece no Novo Testamento, Jesus é dito como “astro nascente para iluminar os que vivem nas trevas” (Lucas 1:78), repete-se em Mateus 4:16 e é confirmado pelo próprio Jesus que se apresenta como “Eu sou a luz do mundo” (João 8: 12 e 9:5). O Sol, propriamente dito, serve de comparação ao esplendor de Jesus na transfiguração: “...seu rosto brilhava como sol e sua roupa tornou-se alva como a luz” (Mateus 17: 2) e repete-se no Apocalipse: “seu rosto brilhava como o sol, brilhando com toda a força” (Apocalipse 1: 16).
A iconografia cristã primitiva usou sistematicamente temas pagãos para associar Cristo a um deus solar – Mitra ou mesmo Hélio. Era uma maneira de disfarçar a fé cristã quando o risco de perseguição impedia o uso de símbolos cristãos explícitos.
A escolha do dia 25 de Dezembro
Com a liberalização do cristianismo, a celebração das datas cristãs ganhou força. Desconhecia-se contudo (e ainda hoje) a data do nascimento de Jesus e os Evangelhos são reticentes a respeito. Em Lucas há um indício quando o evangelista descreve a noite do nascimento de Jesus: “Nos arredores, havia uns pastores que pernoitavam nos campos, montando guarda a seu rebanho” (Lucas 2: 8). É improvável que os pastores pudessem dormir ao relento em pleno inverno. Isso só poderia ocorrer na primavera, quando os cordeiros nascem.
A falta de interesse dos evangelistas em datar o nascimento de Jesus pode ser explicada pelo fato que, na época, a data de concepção era muito mais significativa, mesmo em termos astrológicos, do que a data de nascimento. Assim, no caso de Jesus, a data de concepção – momento em que o “Verbo se fez carne” – ganhou preeminência teológica. Daí a importância da celebração da Anunciação (25 de março, no calendário gregoriano, e 7 de abril, no calendário juliano usado pelas igrejas ortodoxas).
A hipótese do 25 de dezembro como data do nascimento de Jesus apoiou-se em duas razões:
A intenção de substituir o culto do Sol Invictus e, na sequência, a Saturnália por uma festa cristã. Essa cristianização de uma festa pagã, algumas vezes entendida como uma apropriação ilegítima por parte da Igreja Cristã, teria ocorrido no bojo de outras assimilações como os termos e conceitos de “templo”, “basílica”, “pontífice”, “auréola” etc. A substituição do festival pagão, contudo, parece ter sido lenta, uma vez que o papa Leão I, em 460, comentou: “É tão estimada essa religião do Sol que alguns cristãos antes de entrarem na Basílica de São Pedro, depois de subirem a escada, se voltam para o Sol e se inclinam em homenagem à estrela brilhante. Estamos angustiados e lamentamos muito por esse fato repetido por uma mentalidade pagã. Os cristãos devem abster-se de qualquer aparência de deferência a esse culto dos deuses” (Papa Leão I, Sétimo sermão realizado no Natal de 460).
Por seu valor metafórico teológico e bíblico que permite reconhecer Jesus como o Messias das profecias, e associá-lo à ideia de “luz do mundo” mencionada nos Evangelhos, conforme acima exposto.
Seja como for, o 25 de Dezembro fixou-se como a festa que congrega milhões de cristãos e é comemorado, inclusive por muitos não cristãos. Durante esse período, cessam os compromissos mundanos, as agendas políticas e jurídicas, e interrompem-se até as guerras e conflitos cujo exemplo mais significativo foi a Paz e a Trégua de Deus durante a Idade Média.
Apesar das críticas ao Natal por seus aspectos profanos – perda do significado espiritual e teológico, interesses econômicos e intensa comercialização – a data permanece como a mais importante do calendário ocidental e estendeu-se a boa parte do mundo, tendo sido globalizada pacificamente, e certos costumes foram livremente adotados em países não cristãos, como no Leste Asiático.
Etimologia
A palavra Natal derivado do nātālis no latim, do verbo nāscor que tem sentido de nascer. Do nātālis, em latim, surgiu natale em italiano, noël em francês, nadal em catalão, navidad em espanhol.
Já o termo Christmas, originou-se do inglês arcaico Christes maesse que evoluiu para Christ’s mas que quer dizer “missa de Cristo”.
Fonte: ensinarhistoria.com.br
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