Nos anos de 2024 e 2025, a projeção é de que 22,46 mil mulheres da Região Sul do Brasil recebam o diagnóstico de câncer de mama, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) a partir dos dados oficiais do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
O Rio Grande do Sul, com 3,72 mil novos casos anuais esperados, enfrenta uma realidade preocupante, assim como Santa Catarina e Paraná. O Estado gaúcho tem prevalência de 36,60 casos para cada 100 mil mulheres.
Diante desses números, a médica Maira Caleffi, chefe do Núcleo Mama do Hospital Moinhos de Vento, destaca que a doença ainda mata muitas mulheres que poderiam ser salvas com diagnósticos mais ágeis e acesso adequado ao tratamento.
No entanto, no contexto do Rio Grande do Sul, ela observa que, após os impactos da pandemia e das enchentes que atingiram o Estado em maio deste ano, houve uma queda significativa na realização de exames preventivos, o que levou ao aumento de casos mais avançados da doença.
"Baixou o número de casos de câncer diagnosticados, mas não é porque tem menos, é porque as mulheres não vieram, então não foram diagnosticadas. E quando a gente começou a atender de novo, a gente via casos mais avançados, mais difíceis de tratar. Parece que a gente tinha voltado para 15, 20 anos atrás", explica a mastologista.
Segundo o Inca, o câncer de mama é o mais comum em mais de 157 países, representando três em cada dez diagnósticos no Brasil.
Em 2013, a servidora pública Juliana Kreling estava entre as estimativas em Porto Alegre. Aos 27 anos, ela recebeu o diagnóstico de câncer de mama.
"Quando chegou o resultado, era um câncer de mama triplo negativo, que é um câncer bem agressivo, não é dependente de hormônio, então ele se multiplica muito rápido. Foi aquele susto", conta Juliana.
A servidora, agora com 38 anos, disse que, na época, adotou uma prática que para ela funcionou, o que ela chama de "modo de resolução de problemas": "vamos resolver mais um problema na minha vida e está tudo certo. Eu entrei muito no 'tá, eu quero ficar viva e eu vou fazer tudo que eu preciso pra ficar viva'", relembra.
Prevenção
Para a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), a prevenção primária, como a adoção de um estilo de vida saudável, e a prevenção secundária, com a realização de exames de rastreamento, são essenciais para reduzir a incidência e a gravidade dos casos.
Ainda não existe vacina contra o câncer de mama. Mas existe prevenção de riscos, que é: controlar o peso, fazer mais exercício, diminuir o uso de álcool. A gente pode diminuir a chance de ter câncer em 30%, isso é mais do que qualquer medicação que pode existir", explica a especialista Maira.
Dados globais referenciados pelo Inca indicam que a doença deve continuar crescendo, com uma projeção de 2,9 milhões de novos casos anuais até 2035, um aumento de 27% em relação aos números atuais.
Juliana, que já foi paciente oncológica, identificou que precisaria incluir mais hábitos saudáveis na sua rotina, mesmo após ter finalizado o tratamento.
"Hoje eu sou uma pessoa muito mais atenta ao meu corpo. Não que eu não fizesse exercício antes, mas hoje eu sou muito mais ativa, não consigo ficar sem exercício físico. Faço pilates, academia, corrida, e sempre tentando buscar uma alimentação mais saudável, sem radicalismo", conta a servidora.
A doença no cenário político e nas redes sociais
A doutora Maira reforça a necessidade de manter o câncer de mama como uma prioridade na agenda política, especialmente em um ano eleitoral, chamando a atenção para a importância do diagnóstico precoce e do acesso a tratamentos de qualidade.
"A gente sabe que as coisas dependem muito da cidade para mudar não só a questão da saúde, mas para melhorar a vida das pessoas. E o Outubro Rosa esse ano tem um sentido de realmente botar isso na agenda política dos candidatos a vereadores e a prefeitura", diz.
A mastologista também destacou a necessidade de combater a desinformação, especialmente em um contexto onde se ela espalha com facilidade, e defende que a conscientização deve ocorrer em diversos meios de comunicação.
“É ingenuidade achar que todo mundo está nas redes”, reflete Maira.
Conheça a história de Juliana
Natural de Lajeado, mas moradora de Porto Alegre, a servidora descobriu o câncer de mama após um exame de rotina. Como ela tinha mamas densas, sua ginecologista recomendou uma ecografia para descartar a presença de fibroadenomas. No entanto, Juliana demorou dois anos para fazer o exame e, ao realizá-lo, foi surpreendida ao ver uma "bolota" no monitor, o que a levou a recomendação de realizar uma biópsia e, logo, o resultado positivo para câncer.
"Quando ela ([a médica] foi falar comigo no telefone, pelos termos que ela usou eu já entendi que eu tava doente. Ela não falou por ligação, mas como eu tenho formação em biologia também, eu já meio já fui processando aquela notícia", recorda.
O tratamento envolveu quimioterapia, que reduziu o tumor significativamente, seguido de cirurgia e radioterapia para garantir que nenhuma célula cancerígena permanecesse. Todo o processo durou cerca de sete meses.
"Na quimioterapia eu passei muito bem psicologicamente, fazendo terapia. E na cirurgia eu fiquei com medo de morrer. Fiquei pensando 'mas e se eu entrar na sala e eu não sair?', e foi a única vez, de verdade, que eu tive medo de morrer. Eu tinha muito medo da anestesia, de não voltar", conta.
O tratamento envolveu quimioterapia, que reduziu o tumor significativamente, seguido de cirurgia e radioterapia para garantir que nenhuma célula cancerígena permanecesse. Todo o processo durou cerca de sete meses.
"Na quimioterapia eu passei muito bem psicologicamente, fazendo terapia. E na cirurgia eu fiquei com medo de morrer. Fiquei pensando 'mas e se eu entrar na sala e eu não sair?', e foi a única vez, de verdade, que eu tive medo de morrer. Eu tinha muito medo da anestesia, de não voltar", conta.
A doença trouxe muitas reflexões para Juliana, que antes se considerava feliz com a vida rotineira que levava, mas que não percebia o quanto se limitava.
"Com o câncer, comecei a perder o medo de arriscar", conta. "Eu continuo tendo medo de coisas, como dirigir ou andar de bicicleta na rua, mas o medo de morrer por causa do câncer não é o que mais me preocupa", afirma.
Durante o tratamento, Juliana também aprendeu a pedir ajuda, algo que antes tinha dificuldade em fazer: "eu fui obrigada a pedir [ajuda] porque eu precisava".
Hoje, a servidora pública prefere usar o termo "remissão" em vez de "cura", pois sabe que a chance de recidiva é baixa, mas existente. Ela também faz questão de continuar acompanhada por médicos, realizando exames regulares para garantir que tudo esteja bem.
"Eu só quero viver bem e bastante, e aproveitar tudo o que puder", conclui.
Fonte: g1
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