O homem nunca foi aquele “anjo decaído”, que muitos filósofos apregoam, ou querem que assim seja. O homem não é senão um macaco que perdeu o pelo e o rabo, e deixou de andar de quatro. Isso, sim, é uma realidade comprovada pela evolução, que é uma lei inegável da natureza.
A perpetuação da espécie, outra regra da natureza, foi apimentada pela concupiscência, e aí o ser humano se multiplicou. E se multiplicou de tal forma, que foi preciso botar ordem nessa comunidade de macacos evoluídos.
No correr dos tempos, vários códigos de ética, condenando o mal e propondo a virtude, ou até prometendo indenizar a virtude com a vida eterna, foram impostos ou simplesmente propostos. Resultado: muitos, fiéis ao espírito gregário ou atropelados pelo “salve-se quem puder”, se adaptaram às normas, outros, nem tanto, e alguns a repudiaram.
Os primeiros desses códigos têm origens mitológicas, que acabaram se transformando em religiões. Toda a religião é boa, diz-se por aí. As religiões podem, ou deveriam, ser boas, noves fora o terror inserido em suas doutrinas e plantado no ser humano numa idade em que ele aceita tudo.
Sendo animal violento e egoísta por natureza, porém, nem todo o indivíduo humano, quando adulto, se submete a regras de cunho gregário, ou, se as aceita, transforma-as em instrumento do próprio egoísmo. Ocorrem então os excessos. Há os que se deixam impregnar doentiamente pelas crenças e religiões, porque não conseguem se libertar do terror por elas incutido: repudiam ideias contrárias, abdicando do raciocínio, ou partindo para o emprego da violência.
Volta e meia ocorrem atentados sem motivos aparentes que, investigados, acabam desembocando no fanatismo religioso. Os atentados das torres gêmeas deram cria: foram vários, na França, na Alemanha, na Espanha. Na semana passada voltaram à cena. Os acontecimentos em Mali e em Würtzburg, na Alemanha, mostraram mais uma vez a maldade, reconstruindo o animal do qual se originou o homem, envenenado por enganosa teosofia.
João Eichbaum, é escritor e cronista
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