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Recuperação: vagas de emprego com carteira na indústria gaúcha tem setor calçadista na liderança


Após sequência de quedas em parte do primeiro semestre, a indústria calçadista vive retomada no Rio Grande do Sul. Uma das frentes dessa recuperação ocorre no mercado de trabalho com carteira assinada. Em setembro, o segmento liderou a criação de vagas dentro da indústria de transformação no Estado, com abertura de 2.268 postos. De junho a setembro, foram mais de 5 mil, superando todo o saldo do primeiro semestre do ano, que alcançou 3,4 mil. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, divulgado pelo Ministério do Trabalho e Previdência.

Após acumular perda de 3 mil postos de março a maio, o segmento fechou o primeiro semestre com saldo positivo graças ao bom desempenho de janeiro e fevereiro (veja mais abaixo). Desde junho, a indústria calçadista engrena saldo positivo na diferença entre contratações e demissões, e sem soluços. Especialistas e integrantes do setor citam a volta da circulação e o bom ambiente para exportações em razão do câmbio como fatores que explicam essa retomada.


O presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira, afirma que o segmento vive uma curva de recuperação com aumento do consumo interno e externo.


— A busca pela normalidade da sociedade como um todo aumenta o consumo de calçados e, consequentemente, a geração de emprego e de produção. As aulas presenciais e os eventos sociais também influenciam nesse sentido — explica Ferreira.


O dirigente destaca que, mesmo com o bom momento, o setor ainda não conseguiu retomar o patamar pré-pandemia. De janeiro a setembro deste ano, o Estado abriu 8,2 mil postos. No mesmo período de 2020, fechou 12,5 mil, segundo o Caged. Ferreira estima que o retorno ao nível pré-pandemia poderá ocorrer na primeira metade de 2022.


Especialista no setor, o professor de economia da Universidade Feevale José Antônio Ribeiro de Moura também cita que essa recuperação ocorre diante de uma demanda reprimida. Com o avanço do combate à pandemia, os hábitos de consumo das pessoas mudam, segundo o professor. Moura afirma que o consumidor que deixou de comprar esses itens durante os períodos de maior isolamento social voltou ao comércio no cenário atual.


O professor ressalta que a recuperação desse setor estimula outros ramos da economia de maneira indireta, fortalecendo a renda e o emprego em polos, como o do Vale do Sinos:

— O fluxo do setor coureiro-calçadista tem a questão de pecuária, maquinário, curtume, distribuidores, atacadistas, varejistas, ateliês, indústria química e tecnológica. Isso tem uma repercussão no aumento de admissões nesses setores indiretos.


O presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias do Calçado e do Vestuário do Rio Grande do Sul (Feticvergs), João Nadir Pires, afirma que esse aumento de contratações também cria uma busca por mão de obra qualificada no setor.


— Tem uma disputa sadia, porque quem ganha com isso é o trabalhador. O salário oferecido, às vezes, é diferente de uma empresa para outra. A gente vê isso como uma valorização desse trabalhador mais qualificado na indústria — afirma Pires.

Futuro


O presidente-executivo da Abicalçados estima que o bom momento do setor deve seguir nos próximos meses, impulsionada pelo avanço do combate à crise sanitária e, consequentemente, da maior flexibilização das atividades. No entanto, ele afirma que o debate sobre a desoneração da folha de pagamentos coloca um asterisco nesse crescimento.


O congresso discute atualmente projeto de lei que prevê a renovação da desoneração para os atuais 17 setores econômicos contemplados. Na avaliação de Haroldo Ferreira, a manutenção da desoneração é importante para manter os bons resultados em 2022.

— Isso pode prejudicar toda essa recuperação que teve neste ano. Pode botar a perder porque, se aumentar os custos industriais no próximo ano, começa a perder competitividade — afirma Ferreira.


Moura estima que, na esteira dos eventos e do período de férias, a recuperação do setor deve seguir nos próximos meses. Se esse cenário se confirmar, o professor da Feevale reforça que o retorno do setor aos níveis pré-pandemia deverá ocorrer a partir de março de 2022.


Fonte: GZH

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