O Centro Histórico de Porto Alegre recebe pela 70ª vez, nesta sexta-feira (1º), a Feira do Livro. O evento ocorre na Praça da Alfândega – local atingido pela maior enchente da história do Rio Grande do Sul, em maio. Cerca de seis meses após a cheia do Lago Guaíba, o espaço recebe leitores e autores do Brasil e do exterior.
O evento segue até 20 de novembro, reunindo 72 bancas e mais de mil atividades culturais. O público estimado durante toda a edição é de 1,5 milhão de visitantes, de acordo com a organização.
Na enchente deste ano, o Guaíba chegou a 5,37 metros na região próxima à Praça da Alfândega, segundo relatório do Serviço Geológico do Brasil (SGB) divulgado em setembro. A marca foi alcançada no dia 5 de maio de 2024, no Cais Mauá, a poucos metros do local
Durante a cheia, um dos símbolos da praça, o Monumento à Literatura Brasileira, representando os poetas Carlos Drummond de Andrade e Mario Quintana, ficou parcialmente submerso, atingindo quase a altura do banco. A obra de Eloisa Tregnago e Francisco Stockinger, inclusive, foi encomendada para a 47ª Feira do Livro, realizada em 2001.
Segundo o Escritório de Reconstrução e Adaptação Climática da Capital criado em 24 de julho de 2024, a recuperação do local custou R$ 117.077,20. O valor foi investido em limpeza, recuperação e pintura de mobiliários, revisão e instalação de lixeiras e manutenção de passeio e gradis.
O Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) diz não ter dados referente ao impacto dos resíduos recolhidos no local ou no Centro Histórico, já que eles foram contabilizados de forma geral. No entanto, em toda a a cidade, cerca de 150 mil toneladas de entulhos foram retiradas após a enchente.
Programação da Feira
A Feira do Livro ocorre entre 1º e 20 de novembro e reúne encontro com autores, saraus, oficinas, contação de histórias, exposições, bem como programação musical e teatral. A edição deste ano conta com uma curadoria dedicada à literatura e cultura negras, coordenada pela escritora e musicista Lilian Rocha.
Vinte influenciadores digitais voltados à leitura também participam desta edição, entrevistando autores e dialogando com leitores. Entre eles está a pedagoga Clarissa Grendene, de 40 anos. Ela revela que visita o evento há mais de três décadas, hábito que cultiva desde então. Em 2023, chegou a autografar o livro de contos, crônicas e poemas "Voa Garota!"
"Esse ano será diferente dos outros, pois precisamos de um olhar diferenciado para a literatura, essa que foi tão atingida pela enchente. E, para isso, estaremos auxiliando e levando a informação para o maior número de pessoas", afirma Clarissa.
Mais de 700 sessões de autógrafos estão previstas. Na literatura infantil e juvenil, 45 autores nacionais e 44 gaúchos devem marcar presença. Já na programação geral, 270 escritores gaúchos, 29 nacionais e 13 internacionais assinam na Praça da Alfândega. Entre os destaques estão Fabrício Carpinejar, José Falero, Jeferson Tenório, Monja Coen e Bela Gil.
"É uma alegria ver essa edição tomando forma após mais um grande desafio como o que vivemos neste ano, em que muitos livreiros perderam muitas obras, equipamentos, ficaram sem trabalhar", afirma o presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, Maximiliano Ledur.
O patrono desta edição é Sérgio Faraco, escritor de Alegrete. Agraciado com o Prêmio Nacional de Ficção da Academia Brasileira de Letras (ABL) e por três vezes com o Prêmio Açorianos de Literatura, é autor de obras como "Dançar Tango em Porto Alegre", "A Dama do Bar Nevada" e "Lágrimas na Chuva". Aos 84 anos, ele estreia, no evento, o livro "Digno é o cordeiro". Em tom de memória, a obra conta o retorno dele, ainda jovem, da União Soviética ao Brasil em 1965, no início do período ditatorial.
Fonte: g1
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