Um lote de 500 mil doses de vacinas contra a Covid-19 vencidas foi perdido no Rio Grande do Sul na última semana, conforme Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs). Parte da carga foi enviada para descarte para uma empresa na Região Metropolitana de Porto Alegre, enquanto o restante foi levado de caminhão pelo Ministério da Saúde.
As perdas são avaliadas em R$ 15 milhões. Como 5 milhões de gaúchos não completaram o esquema vacinal, a projeção de desperdício em todo o estado pode chegar a R$ 150 milhões, dizem as autoridades.
"Eu fico com sentimento, até no sentido, não só do gasto, do custo, de um dinheiro público, mas também no fato das pessoas não acreditarem na vacinação, que é uma medida de controle extremamente segura e que reduz hospitalizações e óbitos", diz Tani Ranieri, diretora do Cevs. O virologista Fernando Spilki, da Universidade Feevale, ressalta que apenas pessoas com todas as doses previstas para sua faixa etária estão protegidas contra o coronavírus. "Não apenas dinheiro publico, é vida que acaba sendo descartada. Oportunidade de saúde que está sendo jogada no lixo", lamenta. O epidemiologista Pedro Hallal, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), observa que o dinheiro perdido com o descarte de vacinas poderia ser utilizado em outras necessidades da população.
"Esse é o seu dinheiro. É o dinheiro que a gente podia estar usando pra melhorar a qualidade da escola dos nossos filhos, dinheiro que podia fazer com que o posto de saúde estivesse mais bem equipado. Botar fora vacina é de uma estupidez", afirma.
Situação de municípios
Em Alto Feliz, no Vale do Caí, a 94 km de Porto Alegre, são utilizados frascos que permitem a vacinação de até seis pessoas contra a Covid. Como as doses precisam ser aplicadas em até oito horas e poucas pessoas buscam a vacina, o que sobra é jogado fora.
Na cidade com pouco mais de 3 mil habitantes, 2.743 tomaram a primeira dose. Mas a quarta dose (segundo reforço) só foi aplicada em 574 pessoas. Ao todo, 325 doses foram descartadas.
"Após a terceira dose, a gente percebeu uma queda na procura, provavelmente porque também os casos não estiveram tão graves na cidade", afirma a secretária da Saúde, Bruna Somagal Palavro.
Em Sapucaia do Sul, 5.035 doses foram descartadas em pouco mais de um ano. A prefeitura atribui o desinteresse da população às notícias falsas sobre a eficácia comprovada da vacina. "Foi uma falta de adesão, até por essa veiculação negativa das fake news relacionadas às vacinas", dia a secretária da Saúde, Flávia Motta.
No município, as vacinas vencidas são retiradas da refrigeração e colocadas em tonéis. O material é pesado e, depois, levado até uma empresa de Canoas, onde é esterilizado em um equipamento chamado de autoclave. Após esse processo, as vacinas vão para um aterro sanitário em São Leopoldo.
Fonte: g1
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