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O Bicentenário da Imigração Alemã e de São Leopoldo - por Márcio Linck


Imagem: tela de Ernst Zeuner.

O RS está comemorando 200 anos de Imigração Alemã e a lembrança do dia 25 de julho de 1824 entra para a história como um marco divisor na história deste Estado. Trata-se de uma verdadeira epopeia marcada pela ousadia e pela bravura de um povo sofrido, que buscou no além-mar um horizonte de esperanças para um novo amanhã.


Junto à margem esquerda do Rio dos Sinos, desembarcaram 39 imigrantes de fala alemã, incluindo crianças, vindos em sua maioria, da região do Hunsrück, do Reino da Prússia. A Alemanha propriamente dita, ainda não existia como nação ou país, pois sua unificação se deu a partir de 1871, sob a liderança de Otto Von Bismark. Além da Prússia havia ainda mais quatro reinos, um império, sete grãos-ducados, oito ducados e dez principados, além dos Estados da Turíngia e as cidades livres de Hamburgo, Bremen, Lübecck e Frankfurt. Tratava-se de confederação denominada de Deutches Bund (União Alemã).


Antes de desembarcar em terra firme, no lado esquerdo do Rio dos Sinos, denominado de Faxinal do Courita, toda essa gente deve ter se vislumbrado com o que viu nas margens do velho rio, outrora denominado de Itapuí (som da água na pedra) e Cururuai, que na linguagem indígena quer dizer “Rio dos Ratões do Banhado”. Mas não eram apenas ratões e sim toda uma abundante fauna selvagem e uma rica flora que compunha um ambiente exótico e selvagem. Segundo relatos de viajantes e de imigrantes por correspondência, havia pumas, tigres, jaguatiricas, veados, cervos, tamanduás, antas, tatus, coatis, bugios e micos, porcos do mato e aves de variadas cores. Isso demonstra, por um lado, toda uma biodiversidade que até então não sofria risco em relação a sua manutenção e sobrevivência, e por outro todo um desafio a ser transposto e desbravado de um ambiente inóspito e hostil.


Mas, tudo tem seu preço e o mesmo rio que serviu de caminho e porta de entrada para os imigrantes de fala alemã também proporcionaria uma convivência de amor e ódio com a povoação que se instalava e se consolidava em seu leito maior em época de cheias, ou seja, sua planície de inundação formada por seus banhados. E a convivência com o flagelo das inundações seria algo constante ao longo desses duzentos anos, e justamente nesse marco do Bicentenário de São Leopoldo temos a maior cheia da história da Bacia do Vale do Rio dos Sinos.


O desafio frente ao desconhecido estava posto a olhos nu, palpitando em incertezas e expectativas de esperança. Logo que desembarcaram no lugar denominado de Porto das Telhas, puseram seus pertences e impulsionaram seus corpos em cima de carretas puxadas por bois e rumaram por chão batido por caminhos que os levariam a Real Feitoria do Linho e do Cânhamo. Esse era o nome de que haviam ouvido falar. Naquele momento ainda não existia a “São Leopoldo”, pois foi em 22 de setembro de 1824 que a região recebe o nome de Colônia Alemã de São Leopoldo, homenagem ao padroeiro da Áustria e santo predileto da Imperatriz Leopoldina, esposa de Dom Pedro I e responsável pela vinda dos imigrantes alemães ao Brasil. A Colônia foi elevada à condição de Vila em 1846, o que demonstra o rápido desenvolvimento econômico, e torna-se cidade em 12 de abril de 1864.


No balanço estremecido das carretas em meio aos declives topográficos, por dentro da mata nativa, cruzando córregos d’água cristalina, finalmente, os imigrantes chegam ao seu destino: as dependências da recém desativada “fábrica” de cordas para navio e tecidos e das choupanas adjacentes. Na antiga Real Feitoria do Linho e Cânhamo descarregam seus pertences, seus sonhos e suas frustrações. O velho continente europeu ficara para trás. Restavam apenas lembranças vivas na memória, que acompanhariam e impulsionariam um novo sentimento na acolhida pátria nem tão gentil.


São Leopoldo é o Berço da Imigração Alemã no Brasil e mais do que comemorar os duzentos anos dessa data, o município celebra o aniversário de todas as etnias que também ajudaram a construir essa magnífica história. São Leopoldo é a cidade-mãe da maior parte dos municípios que hoje compõe a Bacia do Vale do Rio dos Sinos e parte da Bacia do Vale do Caí, e todas podem festejar a imigração Alemã, mas somente São Leopoldo pode festejar duplamente o bicentenário de uma história que serviu como marco divisório entre o antes e o depois de 1824 na história do RS, onde um novo modelo econômico foi gestado, baseado no trabalho livre, na diversidade de culturas agrícolas, nas pequenas propriedades e na industrialização; na formação das sociedades recreativas (Canto, Tiro e Ginástica), nas instituições religiosas e de Ensino; na pluralidade da Imprensa; na culinária; e nas inúmeras frentes promissoras que se originaram a partir de São Leopoldo. Por isso o aniversário do Bicentenário de São Leopoldo constitui-se numa data especial, que tem como mote fundante a imigração Alemã, mas de uma identidade diversa em sua formação étnica e de inúmeras conquistas e realizações.





*Márcio Linck é historiador e coordenador do Patrimônio Histórico da Secretaria de Cultura e Relações Internacionais de São Leopoldo.

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