Com uma trajetória complexa e tendo a bandeira da educação como referência, ex-governador gaúcho completaria 100 anos neste sábado. A história de Brizola
Político natural do povoado de Cruzinha, interior gaúcho, Leonel de Moura Brizola, que completaria neste sábado 100 anos, tornou-se uma das principais lideranças políticas do país e seu legado segue vivo e cultuado até os dias atuais. Ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, por duas vezes, Brizola esteve presente em alguns momentos marcantes da história brasileira, como ao liderar o movimento da Campanha da Legalidade e ao participar das Diretas Já, além da permanente defesa da educação. “O maior legado de Brizola é a sua coerência política. Muitas vezes inclusive incompreendido. Muitas vezes à frente do seu tempo. No momento em que ele dizia, as pessoas não davam tanta importância. Hoje, muito do que ele disse há 20, 30, 40 anos atrás está aí, batendo na nossa porta. E uma dessas questões é a educação”, cita a neta de Brizola, que carrega o seu sobrenome na política, a deputada estadual Juliana (PDT). Assim como o avô, ela tem como uma das principais bandeiras da sua atuação política a defesa da educação. "Brizola quando governou o Rio Grande do Sul tirou o estado do analfabetismo. Ele entendia o quanto era importante ter uma escolinha de madeira com uma professora em cada recanto do nosso Rio Grande do Sul. Ele sabia o quanto era importante as crianças estarem na escola", afirmou. Quem também defende o legado do ex-governador é o vereador de Porto Alegre Pedro Ruas (PSol), que foi amigo íntimo e que ajudou a fundar o PDT no Rio Grande do Sul, em 1980. Para Ruas, o legado de Brizola pode ser separado em dois: o político e o gestor. Como gestor, ressalta o legado da educação. E, na polítca, destaca o respeito pela coisa pública. "Ele (Brizola) levava isso ao pé da letra", explica, ao falar sobre o modo que Brizola encarava a vida política. "Com muito respeito a democracia, a igualdade de direito e pelos bens públicos". A mesma avaliação é feita pela deputada Juliana Brizola, ao recoradar o jeito de fazer política do avô. Ele retoma, ainda, um traço que considera indispensável do trabalhista: a coerência com os seus ideias. Assim, quando pensa em uma realidade atual com Brizola vivo, acredita que determinados eventos políticos não teriam acontecido. “Ele tinha uma capacidade de mobilizar o povo muito grande”, lembra. Declaradamente brizolista, Ruas conta uma curiosidade: em todos os gabinetes que teve (como deputado estadual e vereador), a maior das foto era a de Brizola.
Nos palcos, a trajetória do trabalhista
A pré-estreia da peça ‘Leonel’, que conta a trajetória política e de vida de uma das mais importantes lideranças políticas do país, foi marcada pela emoção, na noite de quinta-feira, no Teatro Dante Barone. Um dos presentes na sessão foi o irmão do ex-governador do RS, Jesus de Moura Estery.
Infelizmente, com um caso de Covid confirmada, as exibições previstas para esse final de semana foram adiadas para de 11 a 13 de fevereiro, no Teatro Dante Barone. Data marca lançamento de Ciro
A véspera do centenário de Brizola também serviu para o PDT confirmar a pré-candidatura de Ciro Gomes à presidência da República. O ato ocorreu em Brasília, no encerramento da convenção nacional da sigla. O ato ocorreu em momento de incerteza, diante do fato de Ciro não ter avançado nas pesquisas. Em discurso, defendeu a bandeira da educação. E também apresentou o novo slogan da sua campanha. “Eu sou rebelde porque me recuso a perder a esperança”, afirmou. Essa será a quarta tentativa de Ciro de chegar ao Palácio do Planalto.
Uma linha do tempo com os principais acontecimentos na trajetória de Leonel Brizola
Leonel de Moura Brizola nasceu no povoado de Cruzinha (atualmente Carazinho), em 22 de janeiro de 1922, quinto filho do agricultor José de Oliveira Brizola e de Oniva de Moura Brizola.
Aos 14 anos, mudou-se para Porto Alegre, onde trabalhou durante alguns meses nas mais diversas atividades, até conseguir matricular-se no Instituto Agrícola de Viamão (atual Escola Técnica de Agricultura).
Em 1945, entrou para a Escola de Engenharia da Universidade do Rio Grande do Sul, cujo curso completaria em 1949, mas nunca chegaria a, de fato, exercer a profissão.
Em agosto de 1945, ingressou no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) integrando o primeiro núcleo gaúcho da nova sigla.
Nas eleições de 19 de janeiro de 1947, Brizola elegeu-se deputado estadual pelo PTB, participando da elaboração da Constituição gaúcha.
Em 1º de março de 1950, Brizola casou-se com Neusa Goulart, irmã de João Goulart, também deputado petebista na ALRS, sendo Getúlio Vargas o padrinho do casamento. Teria com ela três filhos.
No mesmo ano, foi reeleito deputado estadual, assumindo a liderança da bancada trabalhista na Assembleia Legislativa. Brizola exerceu seu mandato na Casa por um ano, e em 1952, foi nomeado secretário de Obras do estado, no governo do general Ernesto Dornelles (PTB).
Em outubro de 1954, foi eleito deputado federal pelo Rio Grande do Sul. Exerceu o mandato por apenas um ano, pois em 1955 foi eleito prefeito de Porto Alegre, iniciando sua gestão em 1956, dando prioridade ao atendimento de reivindicações das classes trabalhadoras.
Em 1958, elegeu-se governador do RS, com mais de 55% dos votos válidos. No governo, criou a Caixa Econômica Estadual e adquiriu o controle acionário do Banrisul. No governo, defendeu o desenvolvimento do processo de industrialização do Estado baseado no capital privado nacional e na intervenção direta do governo estadual na economia.
Ao fim de seu mandato, foram construídas 5.902 escolas primárias, 278 escolas técnicas e 131 ginásios e escolas normais, totalizando 6.302 novos estabelecimentos de ensino; foram abertas também 688.209 novas matrículas e admitidos 42.153 novos professores.
Com a renúncia de Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, e ausência de João Goulart para tomar posse, inicia-se o movimento de ministros militares para que Jango não assumisse a presidência. Em resistência e com objetivo de garantir a posse do vice, Brizola ocupa as emissoras da Rádio Guaíba e da Rádio Farroupilha, e forma a chamada “cadeia da legalidade”, comandando 104 emissoras gaúchas, catarinenses e paranaenses e mobilizando a população em defesa da posse de Goulart.
Em 1962, com 269 mil votos, a maior votação até então obtida por um candidato a deputado em toda a história do Congresso Nacional, Brizola foi eleito deputado federal pelo antigo Estado da Guanabara. (À época, não se elegeu pelo RS porque, para isso, teria que deixar o governo do Estado para se candidatar).
Em 31 de março de 1964, quando eclodiu o movimento político-militar contra o governo, Brizola manteve resistência e, em Porto Alegre, ocupou os estúdios da Rádio Farroupilha, de onde conclamava a população a resistir ao movimento.
Quando instituído AI-1, que estabeleceu a cassação de mandatos de parlamentares e a suspensão de direitos políticos por dez anos, o nome de Brizola constava na primeira lista de cassados.
Exilado no Uruguai, Estados Unidos e Portugal, Brizola voltou para o Brasil apenas em 1979, com a Lei da Anistia. No ano seguinte, com dissidentes do PTB, fundou o PDT, partido pelo qual foi eleito governador do Rio de Janeiro em 1982.
Em 1984, apoiou a campanha das Diretas Já. Cinco anos mais tarde, participou da primeira eleição direta à presidência da República no Brasil na redemocratização, ficando em terceiro lugar.
Disputou a presidência novamente em 1989, também não obtendo êxito. Um ano depois, pela segunda vez, Brizola conquistou o governo do Rio de Janeiro.
Em 1994, disputou pela terceira vez a presidência da República, mas sua participação foi decepcionante, obtendo apenas 3,2% dos votos válidos, sendo uma derrota sem paralelo em sua carreira política.
Brizola foi candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Lula em 1998, e novamente foi derrotado.
Em função de uma série de acontecimentos que desgastaram a imagem do PDT, Brizola tentou, sem sucesso, retornar à vida pública. Disputou a prefeitura do Rio de Janeiro em 2000, e em 2002, tentou uma vaga no Senado pelo RJ.
Brizola veio a falecer de infarto no Rio de Janeiro em 21 de junho de 2004. Aos 83 anos, à época, cogitava em lançar-se candidato a prefeito do Rio de Janeiro para as eleições daquele ano. Sua morte teve forte impacto na opinião pública e junto ao povo carioca e gaúcho. Milhares de pessoas estiveram presentes nas cerimônias fúnebres que foram realizadas no Palácio Guanabara e no Palácio Piratini. Seu corpo baixou sepultura em São Borja, a cidade símbolo do trabalhismo brasileiro, na qual também estão enterrados Getúlio Vargas e João Goulart.
Fonte: Correio do Povo
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