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Narrando os 200 anos da imigração alemã no Brasil: 45º capítulo - Registros Fotográficos que eternizam a história - 3ª Parte

Registros Fotográficos que eternizam a história - 3ª Parte


Reunindo componentes como estrutura de ferro, pilares de sustentação de alvenaria, leito de madeira e lampiões para a iluminação, a ponte 25 de Julho foi concluída por volta de 1876, e por muitos anos serviu de passagem ao trânsito em direção à capital para quem vinha do norte ou do oeste. A rua Independência, ou Rua Grande, como continua sendo conhecida, é ainda  hoje considerada a principal via da cidade. Na foto, por volta de 1920, tem-se uma vista em direção sul da segunda quadra da rua Independência. O prédio ao centro, com uma charrete estacionada à sua frente, foi onde funcionou por muitos anos a loja de Emilio Müller – um bazar e ferragem que marcou época. Iniciou suas operações nos primórdios do século XX e, com a expansão dos negócios, o prédio histórico acabou sendo demolido e substituído pela ampla construção que abrigou o comércio até o seu encerramento, em meados dos anos 2000.


A história da antiga Rua do Passo ou atual Rua Independência remonta ao período da Feitoria do Linho Cânhamo, ou seja, para outubro de 1788. Mudar o traçado ou até mesmo fechar aquele caminho seria algo totalmente inviável naqueles primórdios, pois ele conduzia ao “passo”, local onde era possível atravessar o rio dos Sinos a pé, em função de um banco de areia ali existente.251 Durante 60 anos seu nome inclusive permaneceu sendo Rua do Passo. Conforme o historiador Germano O. Moehlecke, em data imprecisa, entre os anos de 1883 e 1887, passou a se chamar Rua Independência.


 Por volta do ano de 1898 a Rua Independência recebeu calçamento e cordões de pedra grês de 15 cm de grossura e 35 cm de altura, através de contrato firmado com a empresa João Corrêa e Irmão. Pedras que possivelmente foram extraídas e cortadas na espessura especificada no Morro de Paula.


No relatório do Prefeito Theodomiro Porto da Fonseca do ano de 1933, futuras obras envolvendo a via entram na pauta da Prefeitura. Referem-se ao alargamento dos passeios. Diz o prefeito que

“um dos serviços mais necessários a fazer, segundo meu ver, é o alargamento dos passeios da Rua Independência. Pois se trata da rua principal da cidade, que possui alguma semelhança com a rua dos Andradas de Porto Alegre, centro comercial com estupendo movimento de pedestres. Principalmente durante as tardes de verão, quando a ‘jeunesse d’orrée’252 faz o seu passeio de recreio, não é possível passar-se ‘Rua Grande’ sem encontrar quase a cada passo um obstáculo que obriga a gente a descer da calçada. (...) Seria conveniente substituir o calçamento existente de pedra irregular por pedra paralelepípedo (...).253

A Rua Independência sempre foi o “sistema nervoso central” da cidade. Os grandes eventos do começo do século XX, com aglomeração de público, ocorriam lá. Foram vários anos de desfiles de Carnaval, de Dia do Colono e de Sete de Setembro.


As transformações na composição arquitetônica da Rua Independência, nesses seus mais de 199 anos de história, podem ser verificadas e rastreadas de várias formas. Além dos inequívocos registros fotográficos de diferentes épocas, propagandas de f irmas localizadas no local, inclusive algumas delas com foto da fachada, notícias de jornais contemplando eventos ocorridos e, acima de tudo, os relatos dos cronistas do passado.


Entre esses cronistas se inserem Germano Oscar Moehlecker e Carlos de Souza Moraes, que inclusive foi prefeito de São Leopoldo em duas oportunidades na década de 1940. Nos escritos de Moraes transparece nitidamente uma carga grande de saudosismo em relação à cidade e à Rua Grande em permanente transformação. No seu livro de crônicas, Carlos de Souza Moraes faz uma viagem ao passado e elabora uma radiografia da Rua Grande e sobre as casas outrora existentes.


Nos relatos parece estar interagindo com pessoas do passado, debruçadas nas janelas ou paradas nas portas dos estabelecimentos comerciais. Na percepção dele,

A cidade vai aos poucos perdendo sua fisionomia do passado, sua afeição de aglomeração colonial, de que sempre se ufanou. Velhas edificações que abrigavam, por vezes, mais de duas gerações vão desaparecendo, soçobrando diante do desenvolvimento que nada respeita, que tudo transforma.254

Nosso nostálgico cronista busca reconstituir a Rua Grande da sua infância, trazendo casas e estabelecimentos que existiam naquela rua por volta da década de 1920. Nesse sentido, menciona a Fiambreria Tietzmann, a residência do Dr. Jorge Naamann, o palacete do industrialista Frederico Guilherme Schmidt, as residências geminadas de João Sesterhenn e Carlos Mac Genity, o Café Comercial pertencente a Arthur Ostermann, o açougue Scherer e o consultório dentário de Arlindo Haas.


O cronista Carlos de Souza Moraes menciona também vários estabelecimentos comerciais do passado, tais como a loja de armarinhos da Viúva Elvira Haertel, as lojas de fazendas Arno Mohr, as Casas Imperatriz, a casa de ferragens de Emílio M. Müller, o Bazar e Alfaiataria de Germano Mohr e a Ferragem Feldmann, de propriedade de Edgar Leopoldo Feldmann, que começou suas atividades em fevereiro de 1938 no prédio nº 714, esquina da Independência com a Rua Franklin Roosevelt.


Outro símbolo da cidade e da Rua Independência foi a Livraria Rotermund, fundada em 1877 pelo pastor Wilhelm Rotermund, de onde saiu grande parte dos livros didáticos comercializados e direcionados como suporte na vida educacional dos descendentes de imigrantes alemães espalhados pela vasta região de colonização.



 Nas mídias impressas do começo do século XX, percebe-se grande fartura de anúncios do comércio, indústria e serviços, que remetem a firmas instaladas principalmente na Rua Independência, bem como nas adjacências dessa importante artéria viária.


No caso da firma Hoefel, Sander e Cia, o anúncio, elaborado em alemão, menciona que produzem “anéis e fivelas galvanizadas de todos os tipos. Correntes para todos os fins, soldadas e com trava, tais como: freios, cabrestos para vacas, correntes de tração e coleiras para cães. (...) correntes automotivas, marca gaúcha e fundição própria Hércules”. Percebe-se que entre as atividades econômicas nascidas a partir da comercialização da atividade artesanal, presentes no centro de São Leopoldo, estava também o setor metalúrgico.


Em outra página do mesmo almanaque, verificam-se ocorrências de anúncios de variedade de segmentos comerciais como as lojas “Casa Mena”, “Germano Lang & Cia” e “Sylvio Kraemer”, que comercializavam tecidos e confecções prontas. A firma de Edgar L. Feldmann vendia tintas e materiais de construção. Traduzindo o anúncio, consta que a casa comercial de Emilio Müller era um bazar que vendia “Louças de vidro, porcelanas e esmaltados, além de presentes e artigos do dia a dia”. Por sua vez,  na propaganda da Casa Arno Mohr, consta que era a “melhor e principal alfaiataria masculina da cidade, com grande e variado estoque e com os melhores e mais baratos artigos masculinos e femininos. Especialmente recomendado para meias femininas f inas e espartilhos femininos”.


Na mesma página do almanaque ainda encontramos os anúncios da fábrica de vinagres Weinmann e do Café e Confeitaria Central, um local familiar, que servia sorvetes e pastéis, gerenciado na época por Ricardo Schulze.


Nos primórdios de São Leopoldo, a Câmara Municipal era o mais importante prédio da Rua do Passo, de onde ecoavam as vozes daqueles que administravam São leopoldo. Num segundo momento, o setor bancário da cidade também teria seu espaço na Independência.


Na Independência, esquina com a Osvaldo Aranha, estava localizado também o tradicional armazém Lang & Santos, de Bruno Oscar Lang e Lothário Santos. Conforme Carlos de Souza Moraes, essa casa comercial pertencia a Guilherme Oscar Lang, que a instalara originalmente em 1906.


Nosso cronista nostálgico segue procurando aspectos do passado e lembra das lojas de Arno Mohr, bem como da loja de fazendas pertencente a Cristovão Leiria: “Quem não lembra da figura simpática e bem-quista de Arno Mohr? Ao lado de suas lojas funcionaram por longos anos as Casas Imperatriz. Como faz bem relembrar o passado.”


Na São Leopoldo dos anos de 1950, havia pessoas que possuíam uma visão cosmopolita e progressista, que saudavam os sinais de progresso da cidade com grande entusiasmo. Nesse contexto se inseriam luzes de várias intensidades à noite, sons de buzinas e sessões de cinemas lotadas. Era o espaço urbano caminhando e seguindo uma nova dinâmica. Indícios de cosmopolitismo.


Fonte: Histórias de São Leopoldo: dos povos originários às emancipações, de Felipe Kuhn Braun e Sandro Blume/ Pesquisa Bado Jacoby


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