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Narrando os 200 anos da imigração alemã no Brasil: 44º capítulo - A Educação e Produção do Conhecimento - 3ª Parte

A Educação e Produção do Conhecimento - 3ª Parte


Em áreas de colonização alemã, como é o caso de São Leopoldo, as práticas pedagógicas e educacionais assumiram diferentes formatos e características, na maior parte das vezes norteadas por disputas ideológicas de orientação étnica. As escolas étnicas dos imigrantes, no Brasil, foram um espaço de afirmação e de reelaboração das características culturais dos diversos grupos que as organizaram.


Nas Picadas do município de São Leopoldo encontramos a existência das denominadas Gemeindeschulen (escolas comunitárias). A falta de escolas públicas levou as comunidades a adotar essa forma de contingenciamento autônomo. Uma organização independente entre as várias Gemeindeschulen inclusive foi pauta de discussão entre o Presidente da Província e a Assembleia Legislativa da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul na década de 1850.


Nessas escolas comunitárias geralmente um único professor atuava, sendo responsável por várias séries dos anos iniciais do ensino fundamental, com os alunos das várias séries reunidos na mesma sala. Além disso, as Gemeindeschulen caracterizavam-se pela predominância do uso do alemão como língua básica para o processo de aprendizagem e interação em sala de aula.



Dessa forma, podemos afirmar que as escolas teuto-brasileiras foram o palco principal no confronto entre os ideais de germanidade e de brasilidade na época do Estado Novo.223 Nesse cenário de disputa, as escolas foram alvos privilegiados tanto dos defensores da germanidade, quanto do Governo Brasileiro, que objetivava uma rápida absorção cultural dos imigrantes por parte da cultura luso-brasileira.


Mas não era somente com as escolas que isso ocorria. Outras instituições surgidas entre os imigrantes, como as sociedades culturais e recreativas, também foram palco de disputas ideológicas nessa época.

A Revolução de 1930 traz à cena política nacional Getúlio Vargas e a posterior instauração de um Estado nacionalista e autoritário, que gradativamente resultou no Estado Novo, que contava com uma ideologia de exacerbados valores patrióticos. Ao romper relações diplomáticas e declarar guerra à Alemanha, o Brasil do governo Vargas e sua postura nacionalizadora afetaram drasticamente a vida nas comunidades de descendentes de alemães.

Em princípio, religião e educação eram instâncias de grande abrangência e que se abrigavam sob o mesmo manto. Entretanto, as seguidas campanhas de nacionalização aparentemente também levaram a um rompimento entre escola e igreja. Percebidas como inimigas do Estado brasileiro, instituições e escolas de cunho étnico foram duramente reprimidas, por meio de leis que, inclusive inviabilizaram o seu funcionamento. Repressão intensificada principalmente no auge das duas grandes guerras mundiais.


Em relatório encaminhado para a Câmara de Vereadores de São Leopoldo, Theodomiro Porto da Fonseca afirma que o problema da disseminação da cultura germânica poderia ter sido solucionado há décadas, caso não fosse  “[...] a política sempre partidária, trazendo invariavelmente em seu bojo interêsses que só diziam respeito às facções degladiantes, não permitia se tocasse no modo de vida dos colonos”.


O referido relatório ainda indica que, em 1940, foram distribuídos no município de São Leopoldo 1.129 livros didáticos para alunos pobres. E para as escolas, adquiridos mapas do Brasil, do Estado do Rio Grande do Sul e de São Leopoldo. Em  função do alto custo gerado por estes subsídios pedagógicos, Theodomiro Porto da Fonseca sugere que, tanto o governo federal quanto o estadual, mandassem imprimir edições especiais das referidas cartas geográficas, com uma versão simplificada, e encaminhassem para as referidas escolas.



A pesquisadora Clarissa Mombach relata com mais detalhes o ambiente constrangedor a que os professores e descendentes de imigrantes foram submetidos durante o período da Segunda Guerra, na esteira das ações nacionalizadoras do Governo Vargas:

“Nas escolas, os professores deveriam ser brasileiros natos ou naturalizados, as aulas deveriam ser ministradas em português e era proibido o ensino de outras línguas estrangeiras. [...] Em 1942, com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, as repressões ficaram ainda mais violentas, pessoas que não falassem português eram presas e parte da memória dos imigrantes foi destruída (jornais, revistas, livros, documentos, etc). O isolamento relegado aos descendentes alemães em suas colônias passou a ser visto como um problema a ser amplamente discutido. Por não dominarem o português, por manterem escolas, cultos e missas em língua alemã e por normalmente casarem-se entre si, os descendentes alemães eram acusados de serem resistentes à integração nacional. Nesta época, intensificaram-se pelo país notícias de que o ‘perigo alemão’ ameaçava o domínio brasileiro nas terras do sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná).”

 Chama a atenção a relação muito próxima existente entre igreja e escola, que pode ser observada no contexto da imigração alemã, e justamente essas duas instituições foram as que mais sentiram a repressão da nefasta política de nacionalização. É lícito afirmar que as escolas eram instrumentos políticos de difusão do ideário católico, assim como do protestante. Alguns padres (especialmente jesuítas) e também pastores do Sínodo Rio-Grandense bateram de frente com a política nacionalizante de Getúlio Vargas, sendo rotulados como germanistas, e ser germanista significava estar contra a ideia de brasilidade difundida pela ideologia e aparato do Estado Novo.


Na mentoria e articulação dessa germanidade, desde a década de 1930 vinha se destacando, no Rio Grande do Sul, o padre jesuíta Balduíno Rambo, SJ (1906-1961): professor, religioso, botânico, geógrafo e historiador. Pe. Rambo tinha um idealismo  muito parecido com a conduta do Pe. Amstad, jesuíta de uma geração anterior, que atuou muito entre os colonos de ascendência alemã no Rio Grande do Sul, dentro de uma perspectiva do movimento Pater Colonorum – pai dos colonos.


Fonte: Histórias de São Leopoldo: dos povos originários às emancipações, de Felipe Kuhn Braun e Sandro Blume/ Pesquisa Bado Jacoby


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