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Narrando os 200 anos da imigração alemã no Brasil: 44º capítulo - A Educação e Produção do Conhecimento - 2ª Parte

A Educação e Produção do Conhecimento - 2ª Parte


Onze anos mais tarde, no ano de 1869, o mesmo secretário Joaquim Manoel de Azevedo Junior, apresenta outro relatório da Inspetoria Geral da Instrução Pública da Província, contendo “quadro dos collegios e aulas particulares de ambos os sexos da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul no anno de 1868.”219 Pinçamos relação de escolas e professores das localidades pertencentes ao município de São Leopoldo. Novamente optamos por fazer correções quanto à grafia dos sobrenomes alemães, alguns deles sabidamente escritos de forma errônea pelo secretário:

 Apesar de não serem fomentadas e sustentadas pelo Governo Estadual, os municípios tinham que fazer constar nos relatórios anuais as escolas particulares existentes.


 Outro nome de professor mencionado é o do Pastor Sintz, que atuou na Picada 48 por volta de 1850. Em realidade, grande parte dos pastores evangélicos exercia, paralelamente às funções eclesiásticas, a função de professor das crianças de sua comunidade. Antes de ser construída a primeira capela, era no pequeno prédio da escola que se realizavam os cultos.


Conforme Janaína Amado, em 1857 percebe-se uma ação mais direta do governo brasileiro, sobre a rede educacional de São Leopoldo. Havia três escolas públicas existentes e representavam 10% do total da rede escolar do município. Desde o início da década de 1860, o governo passou a se preocupar com o fato de os colonos não conhecerem o português e se manterem afastados dos principais aspectos da vida brasileira. Mas a maioria dos colonos, entretanto, continuou a mandar seus filhos para as escolas alemãs.


Na segunda metade do século XIX, percebe-se que as autoridades provinciais tentam gerenciar e enquadrar todas as escolas, sejam públicas ou particulares, dentro de determinados moldes e orientações da “instrução pública”. Tanto que, até mesmo para algumas escolas particulares, eram as autoridades provinciais que bancavam o aluguel da casa ou sala. As queixas e reclamações de desperdício de dinheiro  público sendo gasto com professores que lecionam para pouquíssimos alunos, eram constantes nos relatórios anuais. Num dos mapas anuais, menciona a questão das aulas supérfluas:

 “Na cidade de São Leopoldo foram fechadas aulas públicas, por não haver alunos no lugar para onde foram creadas (...) Parece incrível, mas é verdade, que se gastava sem o menor proveito para mais de sete contos por anno, custando cada aluno approximadamente 90$000 réis, em um lugar, onde existem 5 excellentes escolas particulares, muito freqüentadas e dirigidas por verdadeiros pedagogos. Das 5 aulas públicas foi já suspenso o exercício da 1ª do sexo masculino que, durante muitos annos, não teve quase freqüência alguma. (...) A freguezia de São Miguel, no município de São Leopoldo possue também duas aulas públicas. A do sexo masculino regida por um professor de origem allemã era freqüentada por 40 alumnos; mas a do sexo feminino, que se achava a cargo de uma normalista, não tinha uma única alumna (...) A razão é obvia: as crianças não comprehendem uma palavra do Portuguez; a professora, nem se quer conhece uma letra do allemão. Percebia, não obstante, além do avultado ordenado, a gratificação pro labore, exhibindo mappas mensaes de freqüência. Em vista da nenhuma utilidade, foi suspenso o exercício da cadeira e removida a professora. Julgo conveniente que a aula do sexo masculino passae a ser mixta, admitindo crianças de todas as idades, visto que entre os habitantes das colônias este systema está geralmente adotado e com aplauso de todos.”

 Da mesma forma, o Diretor da Inspetoria Geral, envolvendo a instrução Pública da Província, percebe a necessidade de professores que tenham o domínio da língua alemã, para lecionar no município de São Leopoldo. E a esses professores caberia a tarefa de ensinar e alfabetizar na língua vernácula:

 “Parece-me conveniente que nos lugares em que domina exclusivamente a língua allemã, seja suspenso o exercicio das escolas, logo que se verifique que os respectivos professores não fallão correntemente esse idioma, e que continuem suspensas até que possão ser providas por pessoas que estejão nas condições de prestar reaes serviços no magistério. A difusão da língua vernácula pelas colônias é assunto digno de maior empenho, mas não pode ser conseguida por leis coercitivas, como provou a experiência em paizes despoticamente governados (...). Não se deve estranhar que os descendentes de colonos conservem no lar doméstico o uso da língua de seus pais; além de não se oppor isso a que sejam bons cidadãos, permite-lhes franco acesso aos immensos thesouros scientíficos e litterários do povo de que são oriundos em benefício até do povo a que pertencem.”

Percebe-se que a escola estava presente no interior das diferentes localidades do município de São Leopoldo, mesmo que a oferta de ensino, até o início do período republicano, tenha sido por iniciativa particular das comunidades, na maioria dos casos. Nessas escolas comunitárias ou particulares, por volta da década de 1850, as classes passaram a ser mistas, reunindo meninos e meninas.


Quanto ao ensino público, na área que atualmente compreende o município de Novo Hamburgo, indica que, na década de 1850, havia 23 escolas particulares, sendo 10 católicas e 13 protestantes, na região das “antigas Colônias Velhas” –Novo Hamburgo, São Sebastião do Cai e Montenegro; bem como 3 Aulas Públicas, sendo duas em São Leopoldo e uma em Hamburgo Velho. No ano de 1883 já havia algumas escolas públicas em Novo Hamburgo, e, em 1886, foi fundada pelas irmãs Engel, no bairro de Hamburgo Velho, um “internato para moças evangélicas teuto-brasileiras”, que mais tarde se transformou na Fundação Evangélica.


Todos os processos relacionados às escolas públicas passavam pela Câmara: contratação, transferência de professores, criação de escolas, assuntos relacionados ao aluguel de prédios que sediavam as aulas públicas, os regulamentos para as escolas, aquisição de materiais didáticos, entre outros.


Sabemos que em algumas localidades, como na Picada Café, o próprio professor, na falta de um lugar adequado para sediar a escola, destinava uma sala ou dependência da sua própria casa para tal finalidade. Em alguns casos cobrava aluguel do espaço, além do ganho da subvenção como professor.


No mundo católico, bem como no evangélico-protestante, o professor representava o esteio da virtude e da transmissão de valores. Ensinando as primeiras letras, assumia seu papel de autoridade dentro e fora do ambiente escolar. Excetuando-se as escolas evangélicas, a varinha do mestre tinha o mesmo valor que o crucifixo na parede.



Fonte: Histórias de São Leopoldo: dos povos originários às emancipações, de Felipe Kuhn Braun e Sandro Blume/ Pesquisa Bado Jacoby


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