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Narrando os 200 anos da imigração alemã no Brasil: 44º capítulo - A Educação e Produção do Conhecimento - 1ª Parte

A Educação e Produção do Conhecimento - 1ª Parte


Antes da chegada dos primeiros imigrantes alemães na região de São Leopoldo, os filhos de descendentes de famílias lusas eram atendidos por preceptores e/ou frequentavam aulas em Porto Alegre. Vasculhando documentação no Arquivo do Museu Histórico Visconde de São Leopoldo, o professor e historiador José Edimar de Souza identificou registros de atendimento educacional feito aos filhos de algumas famílias de Lomba Grande até mesmo pelo padre pároco de Gravataí.


Entre as práticas de ensino e processos de escolarização, verificam-se vários formatos e iniciativas presentes em São Leopoldo desde 1824. Num primeiro momento, a educação proporcionada era de iniciativa particular e a cargo das próprias comunidades, fossem elas rurais ou urbanas, públicas ou particulares, católicas ou evangélico-luteranas. Na grande maioria das comunidades atuava o professor-pastor ou então o pastor-professor. No mundo católico era mais raro o padre atuar como professor.


Os imigrantes chegados da Alemanha tinham uma noção diferenciada sobre vivência escolar. Dos lugares de onde eram provenientes, o valor e a qualidade da educação popular era bem mais elevado. Essa discrepância fica mais acentuada se considerarmos o período pós-revolução industrial e sob influência iluminista. A respeito desse contexto, Felipe Kuhn Braun acrescenta:

“O governo imperial não dava nenhuma formação para os imigrantes, reflexo da colonização portuguesa, que deixava a desejar na área da educação. Por sua vez, as igrejas tiveram um papel muito importante, ocupando o vácuo deixado pelo Estado na educação, criando escolas paroquiais e associações escolares para o ensino das crianças. E, quando havia falta de religiosos, a população organizava-se, pagando ao colono ou à pessoa com maior formação na localidade para ministrar conteúdos educativos às crianças, que em geral estudavam até a terceira ou quarta série.”

Sobre as comunidades evangélico-luteranas devemos considerar que, dentre os colonos que se radicaram na Colônia de São Leopoldo, havia alguns imigrantes com formação superior, como foi o caso do Pastor Friedrich Christian Klingelhöeffer. Essas poucas pessoas com alguma capacitação tiveram que assumir um papel de protagonismo no processo de desenvolvimento de suas comunidades, não somente na área espiritual, mas também no processo de educação, para não depender das incertezas de ações governamentais para tanto.


A primeira escola fundada pelos imigrantes evangélico-luteranos em São Leopoldo remonta ao ano de 1826, por meio de iniciativa do pastor Johann Georg Ehlers, que atendia à comunidade luterana da área pioneira de colonização – correspondente ao centro da atual cidade de São Leopoldo.


Numa região mais ao norte da Colônia Alemã, o atendimento era feito pelo referido Pastor Klingelhöfer, residente na localidade de Campo Bom, onde além de fundar a Comunidade Evangélico-luterana em 1828, criou uma escola dentro do prédio da própria igreja, onde ministrava as aulas durante a semana, atendendo filhos de colonos da comunidade e inclusive algumas crianças de famílias católicas.


Em Lomba Grande, o primeiro professor da Gemeindeschule foi João Michel Paul Gaspar que, possivelmente tenha atuado como professor até 1842, assumindo na sequência João Guilherme Gäelzer, que permaneceu até 1860. No período de 1860 a 1881, o professor Henrique Meyer lecionou na localidade, não medindo esforços para que um prédio escolar fosse construído.


Em 1890, o Presidente da Província do Rio Grande do Sul, Júlio de Castilhos, designou vários professores públicos para lecionarem Português nas aulas e grupos escolares de Novo Hamburgo. Um deles foi João Baptista Jaeger, que foi enviado às escolas de Lomba Grande, território leopoldense que seria incorporado a Novo Hamburgo no ano de 1939 através do Decreto Estadual nº 7.842, assinado pelo interventor federal Osvaldo Cordeiro de Farias.


A partir do relatório do secretário da Inspetoria Geral da Instrução Pública da Província, foi possível montar uma tabela contendo a relação de colégios e aulas existentes em São Leopoldo, no ano de 1858. Um dos professores da lista preparada por Hillebrand, foi o ex-Brummer Frederico Michaelsen (já citado em capítulo anterior da narrativa), protestante, natural de Hamburgo. O próprio professor narra sua trajetória, da época em que atuava no interior do município de São Leopoldo:

“No dia 1º de maio de 1854 assumi como professor na Linha Hortêncio, conhecida como ‘Picada dos Portugueses’. Ali eu assinei um contrato por quatro anos, recebendo a moradia e terras para plantar, além disso um salário fixo de dez Mil réis mensais. Devia lecionar para todas as crianças da comunidade cujo número oscilava entre 30 e 40. Estas davam suas contribuições mensais em moedinhas que somavam 13, 14 ou 15 Mil réis. Além das minhas tarefas como professor, estava ao meu encargo o serviço da Igreja nos domingos quando o pastor estivesse ausente. Este vinha de São Leopoldo, a cada três meses. Eu presidia as devoções, fazia as leituras bíblicas e a leitura dos sermões, além de iniciar os cânticos da comunidade. Por esse trabalho recebia 20 Mil réis por ano e de cada membro da comunidade uma “quarta” de feijão preto e duas quartas de milho, in natura. Renda extra: Numa festa de noivado recebi “uma pataca” para fazer o discurso oficial, além de ter o direito de comer e principalmente beber à vontade".

Fonte: Histórias de São Leopoldo: dos povos originários às emancipações, de Felipe Kuhn Braun e Sandro Blume/ Pesquisa Bado Jacoby


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