O desenvolvimento da imprensa na colônia
De acordo com Gertz (2004), em relação à imprensa alemã, houve, no mínimo, três tipos de publicações, os almanaques, as revistas e os jornais8. Essa imprensa era brasileira de língua alemã, portanto não pode ser considerada como imprensa estrangeira, além disso, teve algum papel na formação cidadã das populações de origem alemã. Os jornais políticos tiveram maior destaque, ainda que os almanaques tenham circulado com maior força nas regiões coloniais e durante muito tempo foram os únicos meios de comunicação que deixavam os colonos a par das grandes novidades, além de contribuir para a manutenção da germanidade.
Segundo Imgart Grützmann (2007), o mais famoso dos calendários teuto-brasileiros foi o Kalender für die deutscher in Brasilien, que surgiu no final do século XIX e foi editado até 1939, pela casa Rotermund, de São Leopoldo, defendendo o ponto de vista evangélico e escrito em alemão. No Rio Grande do Sul, a produção de almanaques iniciou em 1854, com o Deutscher Kalender, predominando o almanaque popular, o Volkskalender, preocupado com os acontecimentos nacionais e internacionais. Havia ainda os almanaques de cunho religioso, usados pelas confissões religiosas para a divulgação de suas doutrinas, e os almanaques voltados a localidades ou regiões específicas, com notícias culturais e sociais, próprias do lugar a que se destinavam. Em sua maioria, os almanaques tinham uma única edição no ano. Essas publicações traziam os calendários de festa das comunidades, as fases da lua para as plantações, anedotas, falecimentos, propagandas e romances.
O primeiro jornal em língua alemã do Rio Grande do Sul foi lançado em 1852 por José Cândido Gomes, em São Leopoldo, e se chamava Der Kolonist (O Colono). O objetivo de Gomes com seu jornal que iniciou bilíngue, era conquistar eleitores alemães para o processo político que se avizinhava. Porém, naquele mesmo ano encerrou suas atividades devido à indiferença da população, embora tenha prestado algum serviço aos imigrantes ao informar sobre a legislação brasileira, a agricultura, o comércio e a indústria (RAMBO, 2003).
Em 1853, o imigrante alemão Teobaldo Jaeger, radicado no Rio de Janeiro, veio para Porto Alegre e comprou o jornal Deutsche Einwanderer, que se manteve em atividade de modo precário até 1861, quando encerrou suas atividades. Em 1861, suas instalações foram vendidas a um grupo de comerciantes alemães que fundou o jornal Deutsche Zeitung (1861-1917). Os fundadores foram Lothar de la Rue, Julius Wollmann, Richard Huch, Jakob Rech, Wilhelm ter Brüggen, Frederico Haensel e Emil Wiedemann. Nos primeiros tempos contou com apenas 326 assinaturas, situação que mudou quando a redação passou as mãos de Karl von Koseritz, em 1861. De pensamento liberal e anticlerical, ele defendeu a integração do colono alemão com a vida brasileira, isto é, os imigrantes deveriam ter protagonismo e se importar com as questões da vida nacional sem, contudo, deixar de conservar os valores culturais de seus Estados de origem. Além disso, deveriam disseminar esses valores para enriquecer a cultura brasileira. No ano de 1881, Koseritz se afastou da redação do Deutsche Zeitung após desentendimentos com um dos sócios, Wilhelm ter Brüggen, e fundou seu próprio jornal, o Koseritz Deutsche Zeitung, do qual foi redator até 1890 e cujo título foi alterado em 1906 para Neue Deutsche Zeitung (RAMBO, 2003).
O Deutsche Zeitung, o Koseritz Deutsche Zeitung e o Neue Deutsche Zeitung foram os porta-vozes do pensamento liberal teuto-rio-grandense durante quase 80 anos. Nesta condição entraram obviamente em conflito aberto com o segmento teuto-riograndense católico, de modo especial com as lideranças religiosas representadas pelos jesuítas. Foi principalmente nas três primeiras décadas de sua circulação que as matérias publicadas evidenciaram uma virulência anticristã e anticlerical violenta, por vezes muito rude e destemperada (RAMBO, 2003, p.65).
O Der Bote (1867-1878), de Julius Curtius Filho e Wilhelm Rotermund, foi o primeiro jornal evangélico impresso em alemão, em São Leopoldo, cuja missão foi a de combater os privilégios políticos e religiosos dos alemães católicos, ao mesmo tempo em que se caracterizou pela oposição ao Deutsche Zeitung. O Deutsche Post (1880-1928), também de orientação protestante, circulou na mesma região. Criado pelo pastor Wilhelm Rotermund, tinha caráter eclético com informações sobre literatura, política, produção artesanal, indústria e lazer social. Em março de 1871, fundou-se, em São Leopoldo, o primeiro jornal católico, o Deutsche Volksblatt (Gazeta Popular Alemã), para responder aos ataques dos evangélicos e dos maçons. O jornalista Jacob Dillenburg foi o seu editor e impressor até 1874. No ano seguinte, o jornal foi vendido para a Companhia de Jesus (RAMBO, 2003).
Além dos jornais até aqui mencionados, de circulação mais ampla, existiu um número considerável de jornais locais. Como exemplos, temos: Serra Post (Ijuí, 1910); Kolonie (Santa Cruz do Sul, 1891); Ausstellung (Porto Alegre, 1881); Deutsche Presse (Pelotas, 1881); e dezenas de outros mais.
Houve, pelo menos, 140 jornais em língua alemã publicados no Rio Grande do Sul, sobretudo no século XX (GERTZ, 2004).
De modo geral, podemos considerar que,
[...] trata-se de uma imprensa essencialmente destinada à formação e à informação de seus leitores. O êxito, para tanto, foi assegurado pelo recurso aos mais diversos gêneros literários habilmente ajustados aos interesses e às expectativas do público leitor. Destacaram-se os contos, as poesias, as narrações de viagens, as resenhas de notícias, o humor, os provérbios, além das informações de utilidade prática relativas à saúde, à agricultura, ao cuidado com os animais, à culinária, às medidas, aos volumes, ao câmbio etc. (RAMBO, 2004, p.78).
A segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do XX foram marcadas por uma proliferação de sociedades culturais, recreativas, profissionais e de ajuda mútua entre os teutos espalhados pela zona colonial alemã, sobretudo junto à comunidade teuta de Porto Alegre. A intensa vida associativa dos teutos, afirma Silva (2006), foi muitas vezes assumida na historiografia e por descendentes de imigrantes alemães como uma característica própria deste grupo, ou mesmo como uma pré-disposição. Para René E. Gértz (2013), esse caráter associativista atribuído aos teutos nada mais é do que um “chavão”.
Como adverte Haike Roselane Kleber da Silva (2006, p. 130),
[...] tendo a concordar com Seyferth quando critica o natural “espírito associativo” alemão como uma “inflexão laudatória da fraseologia”. O tom implícito neste princípio busca não apenas justificar a existência deste tipo de rede de sociabilidade, mas também reforçar a especificidade do grupo, marcando os limites de sua identidade. A justificativa é ainda mais utilizada quando se tratam de sociedades de tiro, de ginástica ou canto. Estas instituições, mais do que as sociedades de ajuda mútua ou voltadas a outro tipo de atividade recreativa, tomam para si a função de propagadoras e conservadoras da cultura germânica (Seyferth, 1999, p. 26), que, por sua vez, reproduz a ideai da inevitável tendência associativa dos alemães .
Fonte: IMIGRAÇÃO ALEMÃ E POLÍTICA de Carlos Eduardo Piassini, com o apoio da Assemble Legislativa do Rio Grande do Sul/Pesquisa de Bado Jacoby
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