Organização social dos imigrantes
Para superar as dificuldades e adversidades da fase pioneira, os colonos alemães buscaram a sobrevivência através do trabalho e da construção da “solidariedade étnica”, conforme menciona Roche (1969, p. 99) e com o passar dos anos, foram adquirindo uma consciência coletiva ou identidade étnica – sentimento de pertencimento étnico fundamentado na origem exaltado pelo uso cotidiano da língua alemã, pela preservação de usos e costumes e pela intensa vida social de acordo com Seyferth (1994).
Torna-se importante salientar que a identidade étnica surgiu como uma reação dos imigrantes a partir do contato com a sociedade brasileira, particularmente de sua elite, na qual predominava a ideia de que o lugar do colono era no meio rural e ali deveria permanecer, sem possibilidade de ascensão social.
O colono era visto pela elite brasileira como pobre, estrangeiro e era considerado um sub-cidadão. Apesar de, ao longo dos anos, ser construída a concepção de identidade étnica entre os imigrantes alemães, havia uma forte ideologia nacionalista e incessante luta pelo direito ao reconhecimento da cidadania brasileira.
A análise de Tramontini (2003, p.142) sobre a organização dos imigrantes na fase pioneira, considera a luta política uma forma de obter o reconhecimento da comunidade e encaminhar soluções conjuntas, assim “... a ênfase das relações internas e externas ao grupo de imigrantes e a necessidade de encaminhar problemas partilhados, estariam na base da organização do grupo, ressaltando seu fundamento étnico, como processo dinâmico e conflituoso”.
O isolamento geográfico a que os imigrantes estavam submetidos na fase pioneira encontrava na família a célula principal para superar os inúmeros desafios, no entanto, foi necessário desenvolver outras formas de cooperação na comunidade a fim de defender os seus interesses de forma dinâmica nas questões políticas, econômicas e sociais o que, segundo Tramontini (2003) não configura o que muitos autores chamam de isolamento social.
Assim, as reivindicações dos colonos por seus interesses eram trazidas às autoridades administrativas pelos abaixo-assinados e requerimentos coletivos que solicitavam desde assistência médica e espiritual, à construção de escolas, igrejas e estradas, conforme mostra Moehlecke (1978) em sua obra.
A incapacidade do Governo Brasileiro em atender as necessidades básicas da população, fazia com que os imigrantes se organizassem em grupos, formando associações, com fins específicos, para atender a demanda por serviços e viabilizar assim, a vida na colônia.
Neste sentido, Rambo (1988, p.10) expõe a situação dos imigrantes do seguinte modo: “Desde muito cedo, puseram em marcha uma série de mecanismos e de estratégias de sobrevivência física e cultural. Organizaram as suas comunidades, estruturaram um comércio sempre mais amplo, desenvolveram um artesanato variado e eficiente, construíram suas igrejas e edificaram uma vasta rede escolar de cunho nitidamente comunitário”.
Na fase pioneira, além do caráter espiritual, a Igreja desempenhou um papel importante nas práticas sociais entre os imigrantes, pela organização das escolas comunitárias e eventos recreativos culturais. O intenso regime de trabalho, a cooperação familiar, a comercialização dos excedentes dos produtos de subsistência, além da capacidade de suprir as demandas socioeconômicas e culturais através de ações comunitárias foram decisivos para a ascensão social dos imigrantes.
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