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Foto do escritorBado Jacoby

Narrando os 200 anos da Imigração alemã: 17º capítulo - As primeiras famílias

As primeiras famílias que desembarcaram em São Leopoldo


Os imigrantes contratados por conta do Governo brasileiro por Jorge Antônio von Schäffer na Alemanha e componentes da primeira leva, depois de passarem pelo Rio de Janeiro, chegaram a Porto Alegre em 18 de julho de 1824. Seguindo instruções recebidas, o Presidente da Província, José Feliciano Fernandes Pinheiro, encaminhou os imigrantes para a Feitoria desativada à margem esquerda do Rio dos Sinos.

É fácil imaginar a viagem rio acima. Uma vegetação luxuriante, com árvores enormes e flores em profusão; muitos animais povoando as margens: jacarés, capivaras, ratões do banhado, fuinhas e, sem dúvida, alguma cobra deitada preguiçosamente sobre um tronco caído na água. No céu, bandos de aves a fazerem seu balé ao vivo e em cores; garças, biguás, um mundo de pássaros coloridos. Numa palavra: um encanto! Um mundo novo à espera de quem fizera uma viagem de 12 mil quilômetros em busca de uma nova pátria. Do rio, carretas de boi levaram os imigrantes até a Feitoria do Linho-Cânhamo. Era o dia 25 de julho de 1824, um domingo, data da fundação do primeiro núcleo de colonização alemã no sul do Brasil, que viria a transformar-se na cidade de origem alemã no Estado: São Leopoldo. A data é festejada em todos os quadrantes.

A primeira leva de imigrantes era formada pelas seguintes pessoas, num total de 39: Miguel Krämer e esposa Margarida; católicos. João Frederico Höpper, esposa Anna Margarida, filhos Anna Maria, Christóvão e João Ludovico; evangélicos. Paulo Hammel, esposa Maria Teresa, filhos Carlos e Antônio; católicos. João Henrique Otto Pfingst (en?), esposa Catarina, filhos Carolina, Dorothea, Frederico, Catarina e Maria; evangélicos. João Christiano Rust (Bust?), esposa Joana Margarida, filhas Joana e Luiza; evangélicos. Henrique Timm, esposa Margarida Ana, filhos João Henrique, Ana Catarina, Catarina Margarida, Jorge e Jacob; evangélicos. Augusto Timm, esposa Catarina, filhos Christóvão e João; evangélicos. Gaspar Henrique Bentzen, cuja esposa morreu na viagem; um parente, Frederico Gross e o filho João Henrique; evangélicos. João Henrique Jaacks, esposa Catarina, filhos João Henrique e João Joaquim; evangélicos.

Essas 39 pessoas, seis católicas e 33 evangélicas, são as fundadoras de São Leopoldo, nome e lugar até então inexistentes, porque tudo se resumia a Feitoria do Linho-Cânhamo.

É fácil imaginar o quadro na Feitoria com a chegada dos alemães: um lugar nunca imaginado, gente de língua desconhecida e costumes estranhos. E por que tudo tinha um ar de abandono? Se a isso juntar-se um dia de inverno no Vale do Sinos, com frio, cerração e umidade, a chegada deve ter causado impacto. Mas aquele dia ajudou a fazer um novo Rio Grande do Sul, razão para dividir-se sua História em “antes” e “depois” de 1824.

Na parte econômica, podemos referir que a produção agrícola em poucos anos floresceu, a ponto de a colônia abastecer a capital, Porto Alegre. Mais: ao lado do trabalho agrícola, os alemães também eram Handwerker, isto é, artesãos. Trabalhavam a madeira, o ferro, o couro, as fibras.

Desse artesanato, na Alemanha, provieram muitos nomes próprios. Assim, Schmidt é ferreiro; Schuster, sapateiro; também Schuhmacher, sapateiro; Weber, tecelão; Zimmermann, carpinteiro; Schreiner, marceneiro; Schneider, alfaiate; Wagner, construtor de carroças; Müller, moleiro. Com seu trabalho, os artesãos formaram as bases da industrialização no Rio Grande. Não é para menos que o Vale do Sinos transformou-se numa extraordinária concentração industrial. Muitas grandes fábricas espalhadas pelas cidades de origem alemã começaram com um verdadeiro artesanato, em pequenas casinhas de porta e janela, onde tudo era feito à mão.

Na parte cultural merecem citação muito especial as escolas. Não as encontrando aqui, os colonos as criaram para ensinar as crianças a ler, escrever e fazer contas. Assim surgiram as escolas de comunidade; em alemão, Gemeindeschule. Não havia picada, lá no fundo do mato, onde não funcionasse uma escolinha. As crianças vinham de longe, até de um raio de quatro ou mais quilômetros. Algumas vinham a cavalo. O material de aula era simples: a lousa (em alemão, Tafel), o lápis de pedra (em alemão, griffel), e mais tarde a cartilha (em alemão, Lesebuch). Aumentadas em número a cada ano e espalhadas com as novas levas de imigrantes em novos espaços, essas escolas garantiram a luz das letras a milhares e milhares de pessoas.

Por volta de 1938, eram mais de mil escolas coloniais. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registra o menor número de analfabetos na “colônia alemã”.

Ainda na parte cultural, podemos dizer que os alemães têm um caráter muito associativo, isto é, gostam ou até precisam viver em grupos. O clima frio deve ter sua influência sobre tal comportamento. Já nos climas quentes as pessoas andam soltas, fora de casa, sem o aconchego da lareira. A intensa vida em família e os encontros nos locais de lazer, nos clubes, fez surgir grupos de música, de teatro, de canto. Assim o canto coral, tão intenso em nosso Estado, a ponto de haver uma Federação de Coros, é uma das grandes heranças alemãs. Não há vila de origem alemã onde não se cante em grupos masculinos, femininos ou mistos. No mínimo, nas comunidades religiosas, há um pequeno coro que abrilhanta os cultos, acompanha enterros ou alegra as festas de igreja.


Fonte: Fonte: 1824 ANTES E DEPOIS – O Rio Grande do Sul e a imigração alemã Texto: Telmo Lauro Müller



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