O início da industrialização do sul do país começa com os imigrantes alemães no sul do Brasil. Entre os primeiros imigrantes, estavam militares e artesãos, esses últimos foram responsáveis pelos primeiros passos da industrialização no Estado. Entre os artesãos estavam Sapateiros, ferreiros, serralheiros, seleiros, carpinteiros e tecelões.
Em O Trabalho Alemão no Rio Grande do Sul, Aurélio Porto afirma que o começo da indústria surgiu em São Leopoldo, em 1825, quando Luiz Rau, fabricante de couro, ergueu seu primeiro curtume na região. Quatro anos depois mais sete seguiram os mesmos passos de Rau. Nessa época existiam em São Leopoldo oito moinhos de trigo, uma fábrica de sabão, um engenho para lapidação de pedras e até uma pequena oficina de tecelagem.
Uma preocupação de Schaefer (que era quem trazia os alemães para o Brasil_ com a vinda dos imigrantes, era em trazer para o sul do país um razoável número de alemães que fossem artesões, para desenvolver melhor a região do vale do Rio dos Sinos. Segundo o Dr. Martin Dreher, os livros eclesiásticos de 1824 a 1845, retratam que cerca de 60% dos alemães e descendentes eram artesãos. Da atividade metalúrgica, cuteleiros, ferreiros, fabricantes de pregos, ferradores, serralheiros, ferramenteiros. Na alimentação, açougueiros, azeiteiros, moleiros, cervejeiros, padeiros, destiladores, adegueiros, fabricantes de licores. Na produção têxtil, tecelões de linho, tecelões de seda, alfaiates, costureiros de vestidos, chapeleiros, tintureiros, cordoeiros, fabricantes de meias, de colas, de pentes. No comércio, taverneiros, hoteleiros, balconistas. Na atividade madeireira, marceneiros, carpinteiros, cortador de tábuas, fabricantes de carroças. No setor coureiro, sapateiros, curtidores, seleiros, estofadores, pantufeiros. No setor de construções, pedreiros, escultores em pedra, construtores de moinhos, de estábulos. E muitas outras áreas. Já na metade do século XIX Schaefer poderia se sentir satisfeito, pois haviam imigrantes e descendentes nas mais diversas áreas da economia dando assim, sustentabilidade as colônias alemãs.
Eduardo Bueno em Indústria de Ponta – Uma História da Industrialização no Rio Grande do Sul, escreve que em 1874, mais de trinta indústrias do Rio Grande do Sul já eram dirigidas por alemães, não só na zona colonial, mas também em Pelotas e Rio Grande. E Porto Alegre começava a se transformar em uma cidade sob forte influencia germânica, na arquitetura, nos costumes, e, é evidente, na indústria.
"Os cinco Jacobs" e o Transporte de mercadorias pelo Rio Caí
Nessa segunda metade do século XIX se destacam os “cinco Jacobs”, que faziam os transportes sobre os principais rios da região. Jacob Blauth no Rio dos Sinos, Jacob Michaelsen e Jacob Schilling no Rio Caí, Jacob Becker no Rio Jacuí e Jacob Arnt no Rio Taquari. Os barcos e lanchas dos “cinco Jacobs”, foram responsáveis pelo transporte de produtos entre o interior e a capital, na época em que estradas praticamente não existiam ou eram inacessíveis para transporte de cargas.
Eles foram responsáveis pelo serviço postal, pelo escoamento da produção de grãos e pela importação de mercadorias da colônia alemã. Na mesma época dos “cinco Jacobs”, têm início no pequeno município de Linha Nova, a primeira cervejaria do Brasil, fundada em 1868 por Georg Heinrich Ritter. Depois de Ritter, a cervejaria passa a seu genro Wilhelm Becker (casado com sua enteada Elizabeth), que a transfere para Porto Alegre em 1878. Em 1889 Becker falece e seu cunhado Henrique Ritter assume a cervejaria. Elizabeth casa com Bernhard Sassen que também assumia a fábrica, trazendo seu aprendizado com cervejaria.
A Becker e a Sassen viraram uma única empresa e Henrique Ritter montou então sua cervejaria em 1894, em Porto Alegre. O filho de Elizabeth e o filho de seu irmão Henrique Ritter, estudaram na Alemanha e quando retornaram ao Brasil já eram mestres cervejeiros. Frederico Augusto Ritter associou-se ao irmão Carlos e juntos fundaram a cervejaria Ritter e Irmãos em Pelotas e a H. Ritter e filhos em Porto Alegre.
O surgimento das primeiras gráficas (tipografias)
Na mesma época dos Ritter e Becker cervejeiros, surge em São Leopoldo a Livraria Rottermund (em 1877) e duas décadas mais tarde outra importante empresa dessa ramo, a Gráfica Saile em Novo Hamburgo. A Rottermund foi fundada pelo “pastor das letras”, Wilhelm Rottermund. Que ao chegar ao Brasil em 1874, ficou preocupado com a situação do ensino no sul do Brasil. Faltavam livros didáticos, os professores eram mal preparados, livros de ensino sequer existiam. Com a fundação da livraria, Rottermund passou a importar livros da Alemanha. Em 1878 Rottermund começou a editar e imprimir livros, fundando a Gráfica Rottermund.
As publicações de Rottermund tiveram ampla aceitação nas colônias, em 1880 quando o pastor comprou o maquinário do jornal Der Bote (o mensageiro), lançou no final daquele ano o jornal Deutsche Post (de cunho religioso protestante), que passou a competir com o Deutsche Zeitung de Karl Von Kosertiz (de Porto Alegre, de cunho ateísta) e com o Deutsches Volksblatt de Hugo Metzler (de cunho religioso católico).
Os três redatores, da esquerda para direita: Rotermund, Metzler e Koseritz
Surge um dos primeiros conglomerados industriais do sul do país
No final do século XIX e no início do século XX surge um dos primeiros conglomerados industriais do sul do país, nas mãos de Frederico Mentz, hamburguense radicado em Porto Alegre. Eduardo Bueno nos traz detalhes sobre sua atuação na indústria: “Aos 21 anos, (Frederico Mentz) mudou-se para São Sebastião do Caí, onde foi balconista. Em 1893, casou-se com Catarina Trein, filha de Cristiano Jacob Trein, um dos “donos” da cidade. No ano seguinte, surgia a Trein & Mentz – o embrião do império”. E mais: “Em 1907, já associado ao cunhado Frederico Trein e ao concunhado A. J. Renner, transferiu-se para Porto Alegre. ...Surgiram a loja de tecidos, a fábrica de banha Phenix, o imenso depósito de sal e o negócio de couros. Em 1911, Mentz e Renner criaram, em Caí, a tecelagem que daria origem à Renner”.
No Vale do rio Caí, empresários de origens alemãs também desenvolveram a indústria na região e o transporte de mantimentos até a capital. Por mais de meio século o município de São Sebastião do Caí teve um dos mais importantes cais do Estado. O rio mais tarde seria usado também pelos italianos estabelecidos na serra, para escoamento de sua produção. Os poderosos industriais locais, Michaelsen, Trein, Mentz, Renner, Ritter e Oderich lucraram com negócios “que ia dos tecidos ao sal e da navegação às conservas” como resume Eduardo Bueno. A prosperidade econômica de São Sebastião do Caí entrou em declínio a partir da década de 1910 com a viação férrea, os trilhos do trem se tornaram uma forma viável para escoamento de produção e sequer passaram pelo Vale do Caí.
Já Novo Hamburgo e o Vale dos Sinos, se desenvolveram com a chegada do trem já nos primórdios das ferrovias no sul do país, com a primeira ferrovia que ligava a capital a Novo Hamburgo, inaugurada em 1871. A estação em solo hamburguense foi concluída em 1876. Toda a vasta produção do “Hinterland”, as terras por detrás dos morros de Dois Irmãos e Sapiranga, com a chegada do trem, foram canalizadas para Novo Hamburgo.
Novo Hamburgo sempre se destacou pelo comércio desenvolvido por imigrantes alemães (entre os primeiros Kersting, Zimmermann e Schmitt), estabelecidos no bairro de Hamburgo Velho. Porém, como destaca Leopoldo Petry, em sua monografia sobre o município: “O extraordinário progresso do nosso município não se deve tanto ao desenvolvimento do seu comércio... mas sim, ao surto de sua indústria”. Depois da estagnação da indústria hamburguense até o final do século XIX, como destaca Petry, a município voltou a desenvolver-se com fábricas de calçados, couro e selarias.
Enquanto a indústria no país, era um privilégio para os grandes centros e se desenvolvia a passos largos, com Novo Hamburgo era diferente. Já no início do século vários nomes da indústria ficaram conhecidos a nível regional e nacional com o apogeu de suas indústrias.
Entre as empresas de destaque da época estão: o curtume de Guilherme Ludwig, o curtume de Libório Müller, a fábrica de malas de Carlos Grün, a fábrica de malas de Arthur Haas, fábrica de charutos e cigarros de Albino Kieling, a fábrica de móveis de Leopoldo Schneider, a Serraria e Carpintaria de Pedro Mentz Sobrinho, a usina Força e Luz, e as empresas de couro e calçado de Pedro Adams Filho.
Colaboração: Felipe Kunh Braun, Jornalista e Historiador
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