As casas comerciais
Com o desenvolvimento da região promovido pelos imigrantes alemães, os comerciantes também foram ampliando seu poder econômico. Eles eram responsáveis pela compra do excedente agrícola e com o desenvolvimento do transporte fluvial, também foram responsáveis pela venda de produtos importados, aos moradores das colônias. As casas comerciais também se tornaram os pontos centrais das colônias. A vida econômica e social girava entorno desses locais. Eles também abriram contas correntes para seus fregueses, registrando débitos e créditos, tornando de certa forma, os colonos dependentes dos comerciantes, que fixavam os preços nos produtos, desde aqueles produzidos pelos agricultores, até aqueles que só o vendeiro dispunha: os produtos importados. Alguns comerciantes também foram responsáveis por empréstimo de dinheiro ou por disporem de caixa para depósito, cobrando taxas significativas por esses serviços.
Aqueles que se dedicaram ao artesanato no início do processo de ocupação do sul do Rio Grande do Sul, também logo prosperaram. O sucesso se deu, pois faltava de tudo no Estado. Segundo Janaína Amado: “os alemães tiveram êxito, pois faltava quem trouxesse esse conhecimento e produzisse esse material, a escravidão estava enraizada no país e os negros faziam serviços braçais para os portugueses... Os alemães preencheram essas lacunas e desde o início, foram estreitas as relações entre o artesanato rural e o comércio”.
Eram esses imigrantes que deram início a industrialização no Brasil. Todo esse intercâmbio de mercadorias precisava passar pelas mãos dos comerciantes, antes de chegar aos caixeiros viajantes e as grandes empresas de importação e exportação, na capital da Província, Porto Alegre.
No início os artesãos fabricavam todos os artigos considerados de primeira necessidade. Porém, segundo Janaína Amado: “... conforme os comércios foram crescendo, as casas de importação e exportação foram surgindo e os comerciantes foram progredindo, alguns artesãos tiveram que abandonar a profissão porque não tinham como competir com os produtos mais baratos e melhores, importados pelo comércio”.
Dificuldades encontradas pelos imigrantes
Os comerciantes e descendentes, viviam muito bem, em geral em grandes centros, em contato com as casas de importação e tendo recursos para comprar sem precisar reclamar, os produtos produzidos por colonos ou artesãos. Já na colônia as condições eram difíceis, as roupas para o cotidiano não eram baratas, assim como os calçados, muitas crianças ganhavam o primeiro par ao fazer a confirmação ou primeira comunhão. Tudo era caro nas vendas. Quanto ao culto ou a missa, estava longe de ser satisfatório, muitos colonos precisam de duas a quatro horas para chegar à igreja, de modo que elas eram pouco freqüentadas em algumas regiões, para muitos o desenvolvimento cristão havia parado no caminho.
O governo Imperial não dava formação para os imigrantes, reflexos da colonização portuguesa, que deixava a desejar na área da educação. As igrejas tiveram um papel muito importante, criando escolas paroquiais e associações escolares para educar as crianças. Na maioria dos lugares, com falta de religiosos, a população se organizava para pagar ao colono ou a pessoa com maior formação na localidade, para que ministrasse conteúdos educativos para as crianças, que em geral estudavam até a terceira ou quarta série.
A liberdade religiosa, prometida pelo governo, não existia. O poder político estava nas mãos dos luso-brasileiros. Os políticos da Província, desejavam os imigrantes na política como massa de manobra, eleitores pacíficos para dar votos, no máximo representantes locais de um partido. Não os queriam como iguais nem como deputados, não os queriam na hora das decisões, eles eram estrangeiros, comerciantes e agricultores ignorantes do jogo político, precisavam apenas votar, pagar seus impostos e contribuir para o Estado, os descendentes germânicos não se poderiam comparar, em poderio e tradição, aos fundadores do Rio Grande do Sul.
Colaboração: Felipe Kunh Braun, Jornalista e Historiador
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