Além desses jornais, outra modalidade de imprensa muito popular eram os almanaques. Sua edição anual facilitava a sua circulação pelas colônias. Os principais almanaques que circulavam em 1924 eram: Koseritz’ Deutscher Volkskalender, de 1874; Kalendar für die Deutschen in Brasilien, de 1881; Familienfreund Kalender, de 1912; Riograndenser Marienkalender, de 1916; Kalender der Riograndenser Synode, de 1922; e Kalender der Serra Post, de 1922.
Pastor Rotermund era proprietário de uma editora, mas acima de tudo era um homem da imprensa, pela forma carismática de se comunicar com seus leitores e com seus paroquianos no púlpito. Com habilidade valia-se dessa imprensa na condição de instrumento de divulgação e alargamento do seu ideário. Além do jornal Deutsche Post, a partir de 1880 Rotermund publicou também o almanaque anual Kalender für die Deutschen in Brasilien (Anuário para os alemães no Brasil), que deveria fazer frente aos ideais liberais dos alemães Ludwig Feuerbach e Ernst Haeckel, difundidos por Karl von Koseritz e seus adeptos, no almanaque Koseritz’ Deutscher Volkskalender (Anuário popular alemão de Koseritz). O almanaque Kalender für die Deutschen in Brasilien proporcionava entretenimento, informação geral, calendário para a agricultura, orientações políticas, filosóficas e religiosas.
O advento dessa imprensa jornalística é um fenômeno basicamente urbano, que emerge na década de 1850, vinculado geralmente a grupos políticos e às Igrejas. Podemos afirmar que essa imprensa foi bastante atuante até o final da Primeira Guerra Mundial, contribuindo significativamente para a identidade cultural das comunidades e a manutenção do germanismo. Segundo Roche, contribuindo para que os colonos “sentissem que possuíam em comum todo um patrimônio cultural, graças ao conhecimento e à conservação da língua de origem”156, criando alicerces e reforçando uma solidariedade entre alemães e descendentes que estava ultrapassando o plano linguístico e cultural, atingindo logo a seguir o domínio cívico e político.
Conforme Imgart Grützmann,157 o Kalender für die Deutschen in Brasilien, que surgiu no final do século XIX e foi editado até 1939 pela casa Rotermund, de São Leopoldo, possivelmente tenha sido o almanaque que desfrutou de maior alcance e prestígio nas colônias alemãs, sempre defendendo o ponto de vista evangélico, além de ser escrito em alemão.
No Rio Grande do Sul, a produção de almanaques iniciou em 1854, com o Deutsche Kalender, predominando o almanaque popular, o Volkskalender, preocupado com os acontecimentos nacionais e internacionais, incluindo notícias da Heimat alemã. Havia ainda os almanaques de cunho religioso, usados pelas confissões religiosas para a divulgação de suas doutrinas, e os almanaques voltados a localidades ou regiões específicas, com notícias culturais e sociais, próprias do lugar a que se destinavam. Em sua maioria, os almanaques tinham uma única edição no ano, na qual traziam os calendários de festa das comunidades, as datas religiosas a serem guardadas, as fases da lua para as plantações, anedotas, falecimentos, propagandas dos anunciantes, além de crônicas e romances. As primeiras páginas estavam destinadas aos próprios leitores, no sentido de fazerem suas anotações e apontamentos, registrando acontecimentos relevantes da trajetória familiar naquele respectivo ano.
Vários foram os almanaques editados em São Leopoldo e em outras tipografias do Rio Grande do Sul, entre os anos de 1855 e 1941. Mas apesar dessa diversidade, possuíam conteúdos e características em comum. Além do calendário completo e de dados sobre astronomia, forneciam informações de utilidade pública, destinadas a otimizar o cotidiano da urbanidade e dos colonos. Nesse sentido, traziam informações sobre conversão e cotação de moedas, tabelas de juros, pesos e medidas, de fusos horários, de tarifas postais nacionais e estrangeiras, horários de trens e de barcos, preparação caseira de medicamentos, erradicação de pragas nas casas e nas roças, conselhos para a educação dos filhos, dicas de higiene pessoal. Conforme Imgart Grützmann, sob a rubrica Rechtsbelehrung, “os almanaques traziam informações jurídicas que visavam a orientar os leitores no que concerne a testamentos, casamentos, escrituras, inventários e notas promissórias.
Porém, após a proibição de falar a língua alemã, em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial, a imprensa local praticamente não se reergueu. Os traumas ocasionados dificultaram a volta à normalidade de antes do conflito. E logo em seguida, outra sanção com a Segunda Guerra Mundial, bem mais danosa do que a anterior. Entre as consequências negativas trazidas pelas duas guerras, podemos mencionar também a redução do número de pessoas que liam em alemão, por conta do fechamento de escolas fundadas por alemães e descendentes.
Sem dúvida, o golpe de maior dano à imprensa em língua alemã foi desferido pela Campanha da Nacionalização160 promovida pelo Estado Novo, instaurado a partir de 1937, com Getúlio Vargas. Nessa época, vários periódicos tiveram que suspender suas atividades em razão da proibição do funcionamento de entidades étnicas e do uso da língua alemã. Os reflexos dessas restrições foram sentidos ainda posteriormente, num retorno em meio a dificuldades de toda ordem e na diminuição progressiva do uso de língua alemã no Brasil.
Outro jornal que circulou pelo município entre os anos de 1930 e 1950, em língua portuguesa, foi o Correio de São Leopoldo. Seu período de notoriedade foram justamente os anos da Campanha da Nacionalização, no contexto da chamada Era Vargas. E justamente esse assunto sempre obteve significativa pauta e espaço nas páginas do periódico.
Esse apoio unilateral ao regime se explica pela presença, entre diretores e gerentes do jornal, do filho do Coronel Theodomiro Porto da Fonseca, Remy Fonseca. Theodomiro teve bastante longevidade no comando da cidade, governando de 1928 até 1944. Da mesma forma, seu filho Remy permaneceu por muitos anos na direção do jornal, mesmo durante os tempos em que ocupou cargo de confiança no Ministério da Fazenda. Além da tônica do discurso proferido pelo Correio de São Leopoldo focar nas realizações do Prefeito Theodomiro Porto da Fonseca, manter fortes relações políticas com a Prefeitura163 e exaltar os feitos do regime de Vargas, o jornal também estampava em suas páginas notícias relacionadas a São Leopoldo e seus nove distritos.
Fonte: Histórias de São Leopoldo: dos povos originários às emancipações, de Felipe Kuhn Braun e Sandro Blume/ Pesquisa Bado Jacoby
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