Artigo publicado no https://www.extraclasse.org.br
Muito macho brasileiro reproduziu em casa o que o candidato Ciro Gomes fez no debate de domingo na Bandeirantes, quando Bolsonaro dirigiu uma frase bagaceira à jornalista Vera Magalhães.
Muito macho deve ter rido da agressão de Bolsonaro (“você dorme pensando em mim”) à jornalista, como Ciro riu.
E, na média, é possível que os homens também não fizessem nada diante de semelhante agressão.
O macho brasileiro é há muito tempo um “neutro” enquanto as mulheres são agredidas publicamente, nas mais variadas circunstâncias.
Por que os homens não se solidarizam com as mulheres naquele momento? Por que não as socorrem? Por um falso medo das feministas?
Para não serem chamados de machões que consideram as mulheres mais frágeis do que eles? Ou por covardia mesmo?
Um exemplo clássico da falsa neutralidade é o das agressões de Bolsonaro à deputada Maria do Rosário.
Desde o início dos anos 2000 Bolsonaro insulta Maria do Rosário de forma criminosa. Já insultou a deputada na tribuna da Câmara.
Depois, voltou a agredi-la com baixarias no salão verde da Casa. E mais adiante numa entrevista ao jornal Zero Hora.
Os insultos na tribuna e no salão verde foram testemunhados por homens. E os homens se mantiveram distantes, como se isso significasse alguma neutralidade.
A deputada foi agredida (não vou repetir aqui as baixarias), e os colegas machos se encolheram. A neutralidade aqui é a submissão aos fascistas.
Vamos a outro caso, esse recente. Um sujeito chamado Thiago Antonio Brennand, que se apresenta como rico e conquistador, agrediu fisicamente a empresária Helena Gomes numa academia de São Paulo.
O homem, que se sentia rejeitado pela moça, passou a ofendê-la e a empurrá-la. Três mulheres socorreram Helena, enquanto o sujeito a ameaçava, cuspia em seu rosto e puxava seus cabelos.
No vídeo que registra a cena e foi mostrado pelo Fantástico, um homem aparece depois para interferir na agressão, mas são as mulheres que enfrentam o machão.
Helena disse mais tarde que entendia a omissão dos machos que estavam na academia. Eles temem o agressor.
O fascista está em toda parte. A cena exemplar do destemor feminino diante da agressão do macho extremista é a da policial Pâmela Suelen Silva, viúva do guarda civil Marcelo Arruda, assassinado este ano em Foz do Iguaçu.
É Pâmela quem, ao perceber o retorno ao clube do agente penitenciário José da Rocha Guaranho, vai ao carro e retorna com um distintivo da Polícia.
Ela enfrenta a arma do bandido com um distintivo de policial. Tenta contê-lo, quando o homem entra no clube atirando. É Pâmela quem ainda empurra o bolsonarista, para que não matasse seu marido.
Não há homens na cena. Pâmela agiu sozinha. Os homens aparecem depois chutando o assassino caído.
Mulheres enfrentam machos agressores com uma coragem que desconcerta os homens do entorno.
E os machos se omitem, como se assim estivessem dizendo que valorizam a capacidade de defesa das mulheres.
Muitos machos dirão que, se interferissem nessas e em outras situações, poderiam ser interpretados como protetores também machistas.
Não se trata de proteção. Falta um gesto firme de solidariedade numa hora dessas, principalmente quando há agressão física. A omissão não será nunca aceita como desculpa.
Os machos sabem que a luta contra o fascismo, que inclui a declaração explícita de ativismo político das celebridades, é liderada hoje pelas mulheres.
Anitta, Juliette e Bruna Marquezine, para citar algumas delas, não abriram apenas o voto contra o fascismo. Expuseram suas bravuras.
As mulheres podem ter o mesmo medo que os homens expressam ao serem confrontados com as crueldades da extrema direita.
Mas elas enfrentam ogros, genocidas, estupradores, espancadores e assassinos do jeito que dá. Enquanto muitas vezes os homens ficam olhando.
Quem as recebe com preconceito como militantes antifascistas não sabe nada de valentia e de resistência, ou é apenas mais um macho neutro.
Moisés Mendes, é jornalista em Porto Alegre. Escreve também para os jornais Extra Classe, DCM e Brasil 247. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim). Foi colunista e editor especial de Zero Hora.
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