O primeiro trimestre de 2023 apresenta um dado que atesta o enfraquecimento da Covid-19 no Estado: entre 1º de janeiro e 31 de março, 72,6% dos municípios gaúchos não registraram óbitos devido à doença. O levantamento é de GZH a partir de dados do Ministério da Saúde (MS) atualizados nesta terça-feira (4). O número de mortes no ano é 467 no RS, contra 1.905 na comparação do mesmo período de 2022.
Na relação entre fevereiro e março, houve outra queda nos óbitos, de 110 para 58, redução de 47,2% entre os dois períodos. Março de 2023 foi, portanto, o mês com menos mortes por covid-19 no RS desde o início da pandemia, decretada três anos atrás. Porto Alegre registrou 56 mortes no ano.
Especialistas dizem que o cenário indicado nos dados oficiais é o mesmo observado na rotina de trabalho dos hospitais. Casos graves de Covid-19 têm cada vez ficado mais raros e o número de óbitos é o mais baixo desde 2020. Médicos avaliam que a doença é "mais uma" na rotina de atendimento e que o momento da pandemia pode ser compreendido como tranquilo, sem perspectiva próxima de mudança. O cenário nacional também é de redução nos últimos meses.
O que dizem os especialistas
Reduções nos atendimentos de casos graves e mortes têm sido observadas no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Segundo Caroline Deutschendorf, coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, a instituição registrou uma morte devido à Covid-19 neste ano, em março.
"Observamos, ao longo do tempo, principalmente depois que se consolidou a vacinação, que há muita flutuação no número de casos. Temos mais registros [positivos] em algumas oportunidades, depois baixa, depois volta. Mas vemos uma queda sustentada no número de mortes e de casos graves. Passamos muito tempo sem ver um paciente com complicação da doença, isso virou algo raro", diz.
Nesse contexto, a Covid-19 passou de uma das principais preocupações no Clínicas entre 2020 e 2022, para "mais uma" das doenças que são tratadas pelos profissionais.
"Provavelmente, a Covid-19 vai virar uma doença endêmica, como os outros vírus respiratórios. Por vezes, vamos ver algum caso grave, de alguém que nunca tomou vacina ou que tenha a imunidade comprometida. Isso é assim também com Influenza [vírus da gripe], por exemplo, que leva pessoas à morte no caso de uma pneumonia mais grave. Eliminar a covid é realmente muito difícil, mas está muito mais rara hoje. E isso já é uma grande vitória", conclui.
Dos 497 municípios gaúchos, 356 não registraram óbitos entre janeiro e março.
Segundo Paulo Gewehr, infectologista do Hospital Moinhos de Vento, mortes e casos graves são os indicadores mais "fidedignos" para mensurar o momento da pandemia. Isso porque tem caído o número de pessoas que buscam testes nos hospitais; logo, é complexo identificar a quantidade de infecções no país. Tanto óbitos quanto quadros graves que necessitam de internação hospitalar têm apresentado queda também na rotina do Moinhos de Vento.
"Diminuiu bastante porque as pessoas se vacinaram, pegaram covid em vários momentos. Então, hoje, quem tem covid e foi vacinado tem proteção maior. Por isso, acabamos adquirindo uma imunidade importante na população. Nesse sentido, a doença circula menos e também há menos gravidade em quem foi imunizado", diz o infectologista.
Dados da Covid-19 no Estado mostram que períodos com mais mortes podem retornar. Em novembro de 2022, por exemplo, os municípios gaúchos tiveram 76 óbitos, o que até então era o mês com menos registros na pandemia. Porém, em dezembro e janeiro, foram contabilizados saltos de 241 e 299 mortes, respectivamente. Isso ocorreu por conta da disseminação das então novas subvariantes da Ômicron no Estado. No entanto, segundo Gewehr, esse não é um cenário esperado no momento.
"Ainda não temos todas as respostas da covid. Então, pode ser que aconteçam mutações e tenha um aumento [de casos graves e mortes], mas eu acho isso pouco provável. A pandemia está em uma fase tranquila, graças principalmente à vacinação. De qualquer forma, a gente tem que ficar observando a tendência nos próximos meses", observa o infectologista.
Fonte: GZH
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