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João Cândido, o Almirante Negro


"Eles obedecem um preto. Os marinheiros estão sob ordens de um homem negro. Um preto!"

Esse foi o comentário de um colunista de um jornal do Rio de Janeiro no dia que João Cândido e seu corpo de marinheiros, formado por negros e nordestinos, ameaçaram bombardear a capital do Rio de Janeiro.


João Cândido, o Almirante Negro.


João Cândido Felisberto nasceu no Rio Grande do Sul, em 1880, filho de escravizados, acompanhava o pai, que era cativo tocador de gado, nas estancias gauchas. Com apenas 13 anos, combateu no conflito denominado Revolução Federalista(guerra civil estourada no sul). Cândido sempre teve aptidão para liderar. Com 15 anos ingressou na Marinha brasileira, a instituição, na época, alistava negros, pobres e analfabetos de forma compulsória, não foi o caso de João, que ingressou de forma voluntária. Cinco anos depois do ingresso na Marinha, foi promovido a marinheiro de primeira classe e com 21 anos, em 1903, foi promovido a cabo-de-esquadra, tendo sido depois rebaixado por ter introduzido no navio um jogo de baralho.

João não se conformava com o tratamento desumano dado pela Marinha aos seus marinheiros, castigos físicos, proibição do lazer, obrigação de trabalhar por muitas horas faziam parte da rotina da instituição. Um dos instrumentos usados para açoitar marinheiros era a famosa "Chibata". Geralmente, oficiais responsáveis pelo açoite dos marinheiros eram brancos e de famílias poderosas e os açoitados eram negros e pobres, fato que configurava um forte conflito de classes sociais dentro da Marinha.

Em novembro de 1910 um marinheiro negro, de nome Marcelino, se envolveu em uma briga dentro do navio, e foi castigado com 250 chibatadas. A ação revoltou os marinheiros, que encontraram em João Cândido o líder certo para guiar o motim, os marinheiros mataram alguns oficiais e tomaram o navio Minas Gerais, grande encouraçado de guerra. João redigiu uma carta reivindicando o fim dos castigos físicos, melhorias na alimentação e anistia para todos que participaram da revolta. Caso não fossem cumpridas as reivindicações, os revoltosos ameaçavam bombardear a cidade do Rio de Janeiro (então capital do Brasil). O presidente em exercício, Hermes da Fonseca cedeu às condições dos revoltosos, terminando com o motim, após entrega das armas, o presidente não cumpriu a promessa e mandou prender e expulsar marinheiros que participaram do evento. Dessa forma, João organizou uma nova revolta, conhecida como revolta na Ilha das Cobras, fortemente reprimida pelo governo. O líder negro foi internado em um hospital para loucos e depois absolvido e solto, pois houve pressão social pró libertação.

O resultado da revolta da Chibata foi a melhora significativa no tratamento dos marinheiros e soldados das forças armadas brasileiras. João tentou ingressar na vida política e participou de outros momentos importantes na história do Brasil. Sua imagem foi usada nos anos posteriores como símbolo de resistência política à opressão. Foi perseguido durante o Estado Novo Varguista, renegado pela Marinha e morreu como vendedor de Peixe, na cidade de São João do Miriti, Rio de Janeiro.

O Almirante Negro ganhou uma estátua na Praça XV, no centro do Rio, e seu nome batizou um petroleiro. A anistia póstuma aos revoltosos foi assinada em 2008 pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva. A família de João Cândido luta até hoje por uma indenização do Estado. Homenageado por Aldir Blanc, João Bosco e Elis Regina na composição "Mestre sala dos mares", João Cândido foi importantíssimo para a história do país e se tornou símbolo de lutas populares para negros e pobres de todo o Brasil.


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