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Foto do escritorGuilbert Trendt

Jovem autista supera bullying na infância para realizar sonho de ser professor


Leonardo Soares Barbosa junto com os pais em Sertãozinho, SP. | Imagem: Arquivo pessoal.

Nem mesmo as lembranças ruins da infância, de quando sofria bullying na escola por causa do autismo, foram capazes de impedir Leonardo Soares Barbosa de correr atrás do sonho de um dia ser professor de matemática.


E um grande passo nesse sonho foi dado recentemente. Isso porque ele conquistou uma das vagas de estágio para atuar como professor auxiliar na rede municipal de Sertãozinho (SP), no interior de São Paulo.

Há pouco mais de um mês na nova função, o jovem não apenas comemora nesta sexta-feira (15) seu primeiro Dia do Professor, como também o aniversário de 20 anos. As experiências anteriores, que antes atrapalhavam, agora servem de aprendizado para ele na busca por ser um bom profissional. "O professor tem que ter uma didática boa com salas heterogêneas, porque os alunos são diferentes uns dos outros. Posso até não ter tido um bom tratamento no começo, mas depois vi que as coisas eram completamente diferentes e mudei minha opinião." Se pode parecer surpreendente para quem passa a conhecer agora a história de Leonardo, para quem convive com ele há mais tempo a conquista está longe de ser uma surpresa.


Como é o caso da mãe, a também professora Roberta Soares Machado Barbosa. Ela revela que, apesar de nunca ter duvidado do potencial do filho, a comemoração efusiva de toda a família foi inevitável.

"Sempre acreditei no potencial dele, ele sempre foi um ótimo aluno, muito dedicado. Perante todas as dificuldades dele, foi uma explosão de sentimentos. A família toda ficou muito feliz. Uma sensação de dever cumprido. Uma sensação de que a gente está no caminho certo, de nunca desistir da educação dele."


O começo


Os primeiros sinais de que Leonardo tinha alguma deficiência surgiram aos cinco anos de idade. Porém, o diagnóstico de transtorno do espectro autista veio apenas aos dez.


Durante o tempo até conseguir o laudo médico, ele conviveu com incertezas, potencializadas a cada vez que colegas de sala e professores "ignoravam" suas diferenças.


"Lembro que quando eu estudava na escola pública, eu sofria bullying. As professoras não sabiam lidar direito comigo, achavam que eu não tinha nada, achavam que eu era estranho."


Mas o cenário mudou quando ele se transferiu para outra escola no 5º ano do ensino fundamental.


A mudança, aliás, pode ser considerada um ponto de partida na vida dele, já que o diagnóstico de autismo veio com a ajuda dos profissionais da unidade.


"Depois que terminei o 4º ano, tive acolhimento, fui bem tratado, as professoras muito boas. Elas perceberam que eu era um pouco diferente dos outros alunos e recomendaram que fosse no médico para olhar. Depois, descobri que eu tinha autismo."


Um dos responsáveis por ajudá-lo e que futuramente serviria de inspiração para o jovem é o professor de matemática José Reis, conhecido como Reizinho.


"Desde sempre ele se mostrou muito interessado aos estudos, era um menino muito aplicado. Nos três últimos anos, no ensino médio, eu que fui o professor de matemática dele. Logo no início, já percebi o gosto que ele tinha pela matemática e a genialidade que ele tinha em resolver sistemas, equações matemáticas. Ele gostava muito", disse.


O agora e o futuro


Depois de passar por um processo seletivo de quase dois meses, sem ser beneficiado pelo sistema de cotas, segundo a Prefeitura, Leonardo começou oficialmente no estágio no dia 8 de setembro.


Desde então, ele auxilia no período da manhã um aluno com dificuldades de aprendizagem, elaborando atividades para estimular o ensino. Enquanto as aulas presenciais não são retomadas por causa da pandemia da Covid-19, o auxílio é feito de forma remota.


De acordo com a administração municipal, o contrato atual de trabalho é de um ano, com a possibilidade de ser renovado por mais um.


Já à noite, Leonardo cursa o quarto semestre de pedagogia em uma faculdade de Sertãozinho, em busca de concluir mais uma etapa até realizar o sonho de lecionar matemática.

"É uma boa experiência para mim, para quando eu me formar, virar um professor. Depois vou fazer licenciatura em matemática e ser um professor de matemática."


Do que depender da mãe, Roberta, o jovem conseguirá realizar não só esse, mas também todos os outros sonhos que tiver, e terá uma vida normal, sem que as dificuldades que possam aparecer durante a trajetória prevaleçam.


"Quero sempre o melhor para ele, que ele tenha uma vida normal, trabalhe e conquiste os sonhos dele. Que ele consiga ter autonomia para a sobrevivência, porque um dia eu e o pai dele não estaremos mais aqui, e ele tem que aprender a andar com as próprias pernas. A gente criou ele para o mundo, mesmo diante da deficiência dele. Estar preparado para o que der e vier."

Fonte: g1

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