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Foto do escritorGuilbert Trendt

Itália ressuscita lei de Mussolini para reprovar alunos por má conduta

Poucos dias depois da volta às aulas, os estudantes italianos se deparam com um novo sistema de avaliação, que mira o comportamento deles dentro da escola. Aprovada em definitivo pelo Parlamento no fim de setembro, a reforma retoma a nota de boa conduta em alguns níveis e introduz punições mais severas para quem for considerado indisciplinado.


Criada na Itália no início do regime fascista de Benito Mussolini (1883-1945) pelo então ministro Giovanni Gentile, no cargo de 1922 a 1924, a regra da nota de comportamento, em diversas versões, vigorou até 1977, ressurgiu em 2008 e havia sido abolida parcialmente em 2017. Agora, além de ser readotada no ciclo equivalente ao ensino fundamental 2, terá efeito maior para o ensino médio.


Entre as medidas em vigor está a possibilidade de o aluno repetir o ano se receber nota de comportamento inferior a 6, independentemente das demais disciplinas. Para aquele que tirar nota 6, são previstas atividades de recuperação em educação cívica, como um texto sobre "cidadania ativa e solidária".


A reforma é uma iniciativa do ministro da Educação e do Mérito, Giuseppe Valditara, do partido Liga, de ultradireita. "Representa um passo fundamental para a construção de um sistema escolar que responsabilize os jovens e devolva autoridade aos docentes", disse ele após a aprovação do texto.


A mudança conta com o apoio da associação nacional de diretores de escola. Como justificativa, são citados casos de comportamento considerados graves e incomuns, como atos de violência contra dirigentes e professores. A nova lei prevê multas de 500 a 10 mil (R$ 3 mil a R$ 60 mil) para quem comete crimes de agressão contra funcionários de institutos de educação.


Por outro lado, a reforma é criticada pela União dos Estudantes e por políticos da oposição, que classificam a medida de autoritária e de retrocesso. "É uma reforma de segurança. Não incide muito no processo educativo, a não ser pela punição", diz Cristiano Corsini, professor de pedagogia e avaliação escolar da Universidade Roma Tre. "A nota de conduta tem raízes no fascismo e também faz referência ao ambiente carcerário – quem tem boa conduta recebe benefícios."


Para o professor, "avaliar comportamento é diferente de dar nota para comportamento". "Avaliar significa poder melhorar, construir uma relação de respeito às pessoas e às regras. Dar uma nota de conduta é uma visão autoritária."


Um dos pontos críticos do texto é o uso de números na avaliação, em vez de conceitos. "Isso dá impressão de objetividade e precisão. Parece algo científico, mas frequentemente não é", diz Corsini. A avaliação do comportamento será realizada por um grupo de professores e já vale para o ano escolar recém-iniciado.


Outro tópico controverso, segundo especialistas, é que o mau comportamento vai pesar mais sobre a avaliação final de quem conclui o ensino médio. Mesmo se o aluno obtiver notas altas em todas as outras disciplinas, se receber menos que 9 em conduta não poderá se formar com a avaliação geral máxima.


Na visão de Corsini, isso dá ao docente um excesso de poder. "Ele pode condicionar a carreira universitária, por exemplo, de um estudante que tenha levantado a mão para expressar uma opinião crítica. A avaliação foi concebida como uma arma, não como um instrumento para melhorar as atividades."


Desde que assumiu, há dois anos, o governo da primeira-ministra Giorgia Meloni adotou uma série de medidas linha-dura na segurança. Poucos dias antes de a reforma escolar virar lei, em 25 de setembro, outro projeto foi aprovado na Câmara com novos crimes e penas mais severas para, entre outras coisas, quem protesta dentro de presídios ou bloqueando ruas, como os ativistas climáticos costumam fazer na Itália. O texto foi para o Senado.


Fonte: MSN

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