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INvisíveis, o lugar dos indígenas e negros na história da imigracao alemã - Por Elisabeth Baldwinn

Assisti ao lançamento oficial da obra de Gilson Camargo e Domingas Menezes, na Biblioteca Pública de São Leopoldo, no dia 16 de abril de 2024, assinalando um momento dos festejos dos duzentos anos da fundação da cidade.


De lá para cá, a obra vem conquistando leitores e granjeando vários espaços na mídia, ressaltando o programa da Rádio Start Comunicação "Narrando os 200 Anos da Imigração Alemã", comandado pelo radialista Bado Jacoby.


É fundamental apontar o valor do projeto da obra, qual seja, o de denunciar o apagamento dos protagonistas – indígenas e africanos – na história da imigração alemã, bem como o de reivindicar o direito à memória dessas populações invisibilizadas.


Com efeito, por um lado, constitui uma denúncia; por outro, se inscreve como provocação para novas pesquisas.


Os autores, ambos jornalistas de larga data, qualificam a obra como "livro - reportagem", uma categoria editorial que alia características do jornalismo clássico de narrativa referencial com o jornalismo literário, que alberga uma narrativa mais sensível, cativante ou metafórica.


Na esteira da história de livros- reportagem, "Os sertões", de Euclydes da Cunha, cobertura da famosa Guerra de Canudos; "Notícias de um sequestro", de Gabriel Garcia Marquez, sobre o tráfico de drogas na Colômbia; "A sangue frio", de Truman Capote, sobre o assassinato de uma família no Kansas; "Rota 66", de Caco Barcellos , sobre a complexa rede do Esquadrão da Morte no Brasil; os autores Gilson Camargo e Dominga Menezes, por sua vez, construíram também, através de provocativas e múltiplas narrativas, o seu livro- reportagem.


Utilizaram, para configurar a narrativa, uma estratégia denominada Intertextualidade, deslocando sentidos e provocando novas leituras. Estudiosa da área, Julia Kristeva referenda o conceito, quando cita que "todo texto se constrói como mosaico de citações".


Desenvolveram, sobremaneira, a estratégia intertextual chamada "bricolagem", que é, nada mais nada menos, a construção do texto a partir de excertos maiores ou menores de outros textos, quando visíveis, denominados "citações", quando invisível, porque apropriados, denominados "paráfrases" ou porque contestados, paródias".


A obra foi lançada pela Carta Editora com financiamento do Pró- Cultura/RS. Ela soma 208 páginas e vem dividida em duas partes: a primeira discorre sobre a história da imigração alemã, a partir da consulta a 45 obras listadas na bibliografia, demonstrando a participação tensa e conflituosa de portugueses, indígenas, africanos escravizados e alemães/germanos; a segunda expõe importantes falas-depoimentos e entrevistas de pesquisadores ou personalidades partícipes desse processo histórico.


Não poderia deixar de nomear três situações relevantes da obra:


  1. A magnífica entrevista teórica com o historiador Ricardo Brasil Chorão – "Uma história forjada no etnocentrismo" ( p.99-115) – é a referência surpreendente e reveladora da imagem de uma menina negra vestida de bávara (trágica violência!!) no desfile comemorativo de um certo 25 de julho;

  2. A poética apresentação "Cantar, dançar e viver: a história milenar e as lutas contemporâneas dos povos indígenas" (p.15 -20) da também historiadora Inês Caroline Reichert, que se refere às práticas do canto, da dança e da vida como reforço dos vínculos com a memória ancestral dos povos indígenas. Uma experiência de quase magia, muito singular, "suspender ao céu";

  3. O criativo e belo design da capa do livro ,de autoria de Everson Godinho, que antecipa, de maneira pontual e incontestável , a temática da obra.

Elisabeth Baldwin é Dra. em Literatura e Cultura: documentos da Memória cultural

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