O PSD tem sido, pouco a pouco, defenestrado do governo federal. O movimento de despejo começou há cerca de 15 dias e é feito “pelas beiradas”, como definiu um parlamentar pessedista. “É algo progressivo. O governo já observou as movimentações de Kassab e agora tenta contornar, mas é um caminho gradual e sem volta esse do distanciamento”.
O assunto ainda não é tratado abertamente, principalmente porque falta consenso da bancada quanto a saída da base – ao menos neste momento. Tanto é assim que, nas votações, o PSD segue com uma postura mais alinhada à pauta governista. Alguns parlamentares também tentam reverter parte dessas demissões.
Até esta semana as demissões ocorreram dentro do segundo e do terceiro escalão. A maioria delas em superintendências estaduais, a exemplo de adjuntos da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Todas são de pessoas ligadas ao grupo de Gilberto Kassab. Os indicados de Fábio Faria – que já anunciou saída do partido – têm sido preservados. Se trata, porém, de um grupo consideravelmente menor e está mais restritos a cargos no Ministério das Comunicações.
A disputa costurada
Desde maio, Gilberto Kassab passou não apenas a falar em ter um candidato ao Palácio do Planalto que não fosse o presidente Bolsonaro, como também começou a articular isso abertamente. O comandante do PSD é conhecido por ser um experimentado político de centro o que faz com que as falas e posturas dele soem como algo além de uma ameaça ou tentativa de barganha por mais espaço, conforme avaliou outro parlamentar da bancada.
O cenário de 2022, no entanto, ainda tem se desenhado. Entretanto, as últimas pesquisas de opinião que indicam aumento na rejeição do presidente Jair Bolsonaro, a exemplo do Datafolha que registrou um recorde de 51% dos entrevistados considerando o governo ruim ou péssimo, acenderam o alerta para o desembarque.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, o presidente do PSD disse que a chance de reeleição de Bolsonaro é nula. "Cenário de falta de chance absoluta de se reeleger. Não há analista político que possa ver hoje na candidatura do presidente uma viabilidade", disse reforçando que acha "muito difícil a reversão desse quadro".
Pacheco e Aziz
Ao pensar no Senado e no PSD ao mesmo tempo, é possível que Jair Bolsonaro sinta alguma dor de cabeça. De um lado um possível concorrente eleitoral, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), de outro o presidente da CPI da Covid que avança sobre investigações de irregularidades na compra de vacinas e expõe o governo diante da opinião pública, Omar Aziz (PSD-AM)
O presidente da presidente da Casa, senador Rodrigo Pacheco, foi eleito com a sua benção para o comando da Câmara Alta. Chegou, inclusive, a bater o pé contra abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, gerando intervenção do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a instalação dos trabalhos. Mas o mesmo Pacheco caiu nas graças de Kassab e foi por ele alçado à condição de possível candidato ao Palácio nas eleições de 2022, as mesmas que Bolsonaro têm ameaçado que podem não ocorrer.
O comandante do PSD tem articulado conversas de Rodrigo Pacheco com políticos e empresários. Nos cálculos de Kassab, Pacheco reúne qualidades como experiência política, perfil moderado e inserção em Minas Gerais, estado que é o segundo maior colégio eleitoral do país.
Na sexta (9), após uma nova escalada de ataques por parte do presidente Bolsonaro ao sistema eleitoral brasileiro, Rodrigo Pacheco decidiu convocar uma coletiva na qual manteve o tom polido que lhe é de costume, mas mostrou-se incisivo na resposta. "Todo aquele que pretender algum retrocesso ao Estado Democrático de Direito, esteja certo, será apontado pelo povo brasileiro e pela história como inimigo da nação e privado de patriotismo", disse.
O senador ainda buscou firmar uma posição independente da Casa, afirmando que mudanças nas regras eleitorais dependem “exclusivamente” do Congresso "Tudo quanto houver de especulações em relação a algum retrocesso à democracia, como a frustração das eleições próximas, vindouras em 2022 é algo que o Congresso Nacional, além de não concordar, repudia evidentemente”.
Na mesma coletiva, Rodrigo Pacheco prestou solidariedade ao presidente da CPI da Covid, que entra cada vez mais no alvo do governo, à medida que avançam as apurações de superfaturamento e outras irregularidades em contratos para aquisição de vacinas contra o coronavírus. Esta semana a CPI teve um novo capítulo e, em uma sessão tumultuada, Aziz determinou a prisão do ex-diretor de Logística, Roberto Dias, sob acusação de falso testemunho.
Dias é apontado como tendo sido indicado pelo líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR) para o cargo e Barros foi citado pelo deputado Luis Miranda (DEM-DF) na CPI como responsável pelo esquema de corrupção no Covaxin. De acordo com Miranda, Jair Bolsonaro demonstrou saber das irregularidades. No dia 25 de junho, o democrata depôs à CPI e relatou uma reunião como presidente Bolsonaro para alertar sobre falhas, às quais teve acesso, no contrato da vacina indiana, ao que ouviu do presidente “isso é coisa de Ricardo Barros”.
Na quinta, o presidente Bolsonaro foi à público acusar Omar Aziz de participar de um esquema de desvios de recursos para a Saúde no estado do Amazonas à época em que que o pessedista era governador do estado. Aziz retrucou, chamando o presidente a apresentar provas da acusação e enviou uma carta da CPI à Bolsonaro pedindo esclarecimentos sobre as denúncias de Miranda.
Fonte: Congresso em Foco/Matéria da jornalista Júlia Schiaffarino
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