Filhos de PRF aposentado morto por PMs em Torres são soltos; crime aconteceu após briga
- Júlia Barth
- 25 de ago. de 2021
- 3 min de leitura

Os irmãos Lucas e Fábio Zortéa, presos após uma briga em que o pai, Fábio Cezar Zortéa, foi morto a tiros por policiais militares, foram soltos na manhã desta terça-feira (24). A decisão é da juíza Marilde Angélica Webber Goldschmidt, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Torres, no litoral de RS. Ela entendeu que a soltura deles não representa risco à ordem pública.
Fábio, que também foi atingido por um tiro, foi hospitalizado e ficou preso sob custódia. Já Lucas foi encaminhado para prisão, mas já foi liberado. O flagrante da BM foi lavrado por desacato, resistência a prisão e tentativa de homicídio.
Morte durante abordagem
O caso ocorreu na madrugada de segunda-feira (23), em Torres, no Litoral Norte do RS, em frente ao prédio onde a família mora. Zortéa era policial rodoviário federal aposentado, e tinha 59 anos. Ele teria tentando interceder pelos filhos, que eram abordados por dois policiais do 2º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (2º BPAT).

Os filhos teriam ido até uma padaria, onde começou um desentendimento, segundo informações preliminares. Já na frente do prédio onde moram, a Brigada Militar foi chamada e abordou os dois.
O pai tentou intervir e acabou alvejado, conforme a polícia. Nas imagens, é possível ouvir o homem dizendo que é policial.
"Não faz isso, não faz isso. Eu sou polícia também", grita. Em outro momento, uma mulher aparece nas imagens, pedindo para que não batam no filho. "Chega! Não bate no meu filho", diz ela, no que o homem responde: "Tu não bate na minha mulher também".
Após os tiros disparados, o homem volta a pedir que os policiais militares parem. "Não faz isso. Tu é louco, cara?", questiona.
Os dois policiais envolvidos na ocorrência foram afastados. "A Brigada Militar também informa que os policiais militares envolvidos na ocorrência já estão afastados de suas atividades e serão atendidos pelo serviço psicossocial prestado pelo Comando Regional, em Osório", diz, em nota. Leia a nota na íntegra ao fim desta reportagem.
O advogado da família, Ivan Brocca, sustenta que houve execução e tentativas de homicídio. Ele diz que Zortéa e os filhos não estavam armados. Ainda segundo o advogado, imagens obtidas pela defesa mostram que o pai foi agredido com uma paulada antes do tiro. Assista acima.
Segundo Brocca, Zortéa agiu na tentativa de defender os filhos. "Qual pai não faria isso? A gente tem que se colocar no lugar do pai. Digamos que fosse verdadeira a versão [de vandalismo], que não ocorreu, ainda assim não justificaria aquele final", diz.
O Comando Regional de Policiamento Ostensivo do Litoral (CRPO Litoral) informa que instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar os fatos. Segundo o CRPO, para manter isenção e transparência, foi encarregado do inquérito um oficial do Comando Regional, e não do 2º BPAT.
'Boa técnica não recomenda abordagens desse tipo', diz vice
O vice-governador e secretário de Segurança Pública do RS, Ranolfo Vieira Júnior, falou sobre o caso na manhã desta terça-feira (24).
"Os fatos falam por si só. A boa técnica não recomenda abordagens desse tipo. As investigações estão em andamento", disse ele, ressaltando que "não podemos julgar a BM por esse fato isolado".
PRF se manifesta
De acordo com a PRF, Zortéa ingressou na instituição em 1994 e exerceu suas atividades na Delegacia de Osório, onde se aposentou, em 2014.
"Manifestamos nossa solidariedade e nosso sincero desejo de conforto à família nesse momento de dor. A PRF está prestando o apoio à família e acompanhará as investigações da Polícia Civil e da Brigada Militar, responsáveis pela apuração das condutas dos envolvidos, enquanto se coloca à disposição em contribuir para uma justa e isenta investigação", afirma a PRF.
Em nota, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RS) afirmou que "acompanhará o desdobramento do caso com a devida atenção".
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