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Foto do escritorAmanda Wolff

Exposição Memórias Sedimentadas: arte e resistência nas marcas das enchentes

Imagem: arquivo pessoal.

Em um espaço marcado pelo acolhimento comunitário e pelo impacto das enchentes de maio, uma exposição emerge como um chamado à memória e à reflexão. Memórias Sedimentadas, do artista visual Feu Cardoso, transcende o conceito de arte visual, transformando-se em um testemunho sensível sobre as marcas deixadas pela tragédia que atingiu o Vale do Sinos.


Em exposição na Agência Rio Branco da Sicredi Pioneira até a próxima sexta-feira (22), a mostra reúne retratos de pessoas diretamente afetadas pelas enchentes. As obras, produzidas com fragmentos de móveis descartados e barro recolhido das áreas atingidas, contam histórias de dor, resistência e humanidade.


Feu Cardoso descreve sua motivação como uma necessidade de ir além do auxílio material. "Percebi que as pessoas já tinham o básico para sobreviver, mas o que faltava era algo que tocasse suas histórias. Foi então que decidi usar a arte para dar voz a esses relatos", revela o artista, que pela primeira vez incorporou materiais como madeira descartada e lama em sua técnica de pintura.


Para o gerente da Agência Rio Branco, Marcelo Zanotieli, existe uma conexão do projeto com o propósito da cooperativa. "A exposição representa não só a reconstrução física das comunidades, mas também a reconstrução emocional e social. Estamos honrados em acolher um trabalho tão profundo e significativo em nosso espaço comunitário", conta, ao lembrar que a Sicredi Pioneira redefiniu seu propósito após as enchentes, que passou a ser "Juntos reconstruímos comunidades melhores”.


As histórias retratadas nas telas não são meras interpretações artísticas, mas relatos reais capturados em conversas com amigos e moradores da região. "Eu pedia que eles se lembrassem do momento em que a água subiu. No instante em que reviviam aquela memória, os olhares mudavam completamente, e era isso que eu queria registrar", explica Feu.

Imagem: Guilbert Trendt/ Start Comunicação.

Entre os destaques está o retrato de Dona Ivanir, que simboliza as múltiplas camadas de perda vividas pelas vítimas. "Não é só sobre substituir móveis ou objetos, é sobre a impossibilidade de recuperar as histórias que eles carregavam", relata a personagem, cuja imagem carrega uma profundidade emocional que impressiona os visitantes.


Além de seu impacto local, a exposição também será levada para a Agência Scharlau, marcando a reinauguração do espaço, que foi diretamente atingido pelas enchentes. "A ideia é continuar provocando diálogos e oferecendo um espaço de acolhimento e reflexão para as comunidades que ainda vivem os efeitos dessa tragédia", afirma Zanotieli.


Para Feu, Memórias Sedimentadas é mais do que uma coleção de obras: é um memorial às pessoas e histórias que a enchente transformou. "A lama nunca sairá completamente das casas nem das memórias dessas pessoas. A arte, nesse caso, é um caminho para ressignificar essa dor e eternizar essas vivências", conclui o artista.


A exposição é uma oportunidade imperdível para revisitar, por meio da arte, as consequências de uma tragédia que mudou vidas, e para enxergar nas marcas do barro a força e a resiliência de uma comunidade.


Amanda Wolff, da Redação Start

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