Um comunicado da Stara, empresa de máquinas e implementos agrícolas sediada no município de Não-Me-Toque, no Norte do Rio Grande do Sul, endereçado a "fornecedor", sugere que reduzirá o orçamento em 30% em caso de vitória de Lula (PT) no segundo turno da eleição para a Presidência da República.
Em vídeo publicado nas redes sociais da empresa, o diretor Átila Stapelbroek Trennepohl confirma a veracidade do documento e diz que o comunicado foi "dedicado exclusivamente aos nossos fornecedores." Segundo Átila, a Stara é uma empresa que tem prática comum, todo segundo semestre, de realizar a projeção para o próximo ano e compartilhar com os fornecedores.
O caso é investigado como coação eleitoral pelo Ministério Público do Trabalho do RS (MPT-RS). De acordo com o órgão, a Procuradoria do Trabalho (PTM) de Passo Fundo instaurou um inquérito civil nesta terça-feira (4).
No comunicado, assinado pelo diretor administrativo financeiro Fabio Augusto Bocasanta, a Stara alerta sobre uma "instabilidade política e possível alteração de diretrizes econômicas no Brasil após resultados prévios do pleito eleitoral" — sem, entretanto, apontar quais seriam essas mudanças.
Em seguida, afirma que, "em se mantendo este mesmo resultado no 2º turno, a empresa deverá reduzir sua base orçamentária para o próximo ano em pelo menos 30%, consequentemente o que afetará o nosso poder de compra e produção, desencadeando uma queda significativa em nossos números". A circular encerra sem apresentar dados que corroborem as afirmações.
O MPT informa ainda que, ao receber a denúncia, encaminhou à empresa a notificação recomendatória oficial do órgão sobre coação eleitoral e entrou em contato com o sindicato da categoria. Foram também solicitados esclarecimentos à empresa.
Família doou para campanhas de Bolsonaro e Onyx
A empresa tem como sócio Gilson Lari Trennepohl, de 62 anos. Ele doou R$ 350 mil a Jair Bolsonaro (PL) e é um dos 10 maiores doadores da campanha do presidente.
Gilson Trennepohl também é vice-prefeito de Não-Me-Toque, eleito em 2020, na chapa com Maninho (União Brasil). Na ocasião, ele declarou um total de R$ 163 milhões em bens. Ao assumir, passou a direção da Stara ao filho Átila Stapelbroek Trennepohl. Hoje, atua como presidente do Conselho de Administração.
Ao portal g1, por telefone, Gilson destacou que o posicionamento da empresa se deve à insegurança vivida no país e que é normal alertar internamente que "a direção aguarda o decorrer dos próximos capítulos para fazer investimentos."
Gilson também destinou outros R$ 300 mil à campanha de Onyx Lorenzoni (PL), o representante do PL, partido de Bolsonaro, no segundo turno da disputa pelo governo do RS, como consta no portal de divulgação de candidaturas e contas eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Já Susana Stapelbroek Trennepohl, esposa de Gilson e diretora financeira da empresa, doou outros R$ 100 mil à campanha de Onyx.
No mês passado, empresários do agronegócio enviaram veículos agrícolas para 'tratociata' de apoio a Bolsonaro em Brasília. Dois tratores que partiram de Formosa (GO) eram de propriedade da Elo Forte Máquinas, concessionária de veículos agrícolas da Stara.
Nota
Em nota conjunta, o MPT-RS e o Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT-4) afirmam que "o uso de violência ou de coação para influenciar o voto são crimes eleitorais". O documento foi assinado pelo procurador-chefe do MPT-RS, Rafael Foresti Pego, e pelo presidente do TRT-4, desembargador Francisco Rossal de Araújo.
Fonte: g1
Comentários