Ao sair de casa, olhe para cima. Veja acima de sua cabeça aquele emaranhado de fios, fiapos, pedaços de fios, fios caídos, aquele desarranjo público que significa não menos do que desleixo, desconsideração, burrice e incompetência. São fios da RGE, da Vivo, da Net, da Claro, da Oi, da Sky, fios de luz, de telefone, de fibra ótica.
Coisa de terra de ninguém. Terra de quem chega primeiro e faz o que quer. Terra de quem chega depois e desarranja o que o primeiro fez. Não existe estética. Há, sim, por toda a parte, de poste a poste, sinais de ambição, desorganização, o pior retrato de uma cidade.
Vez por outra, os terceirizados de uma empresa, ao resolverem os problemas que lhes cabem, acabam causando problemas não só para as outras empresas que são sócias daquele caos, como e principalmente para os usuários, que sustentam a farra dos serviços públicos diretos ou concedidos.
Na contramão desse desleixo do qual são cúmplices as administrações municipais e estaduais, começou a crescer o interesse pela energia solar. Aos poucos, como quem não quer nada, essa indústria foi se agigantando. E aí as concessionárias da energia estatal sentiram medo. Correram ao congresso, para abiscoitar lucros sem contribuir com nada, para tirar proveito da iniciativa privada e dos custos arcados exclusivamente pelos usuários.
E a Câmara Federal já forneceu atestado do grau de honestidade de muitos deputados: aprovou o pagamento de uma taxa, por conta dos usuários, às ditas concessionárias. Ou seja: taxaram a luz do sol.
Viram como as concessionárias estrangeiras, que usam laranjas brasileiras, têm poder? Viram o tamanho de seus tentáculos e a força dos seus cifrões? Viram o quanto vale em dólares uma lei brasileira?
Sim, senhores, é a isso que chamam, no Brasil, democracia. Essa é democracia garantida por aqueles que, refestelados em privilégios, se acham e batem no peito, dizendo que são guardiães da Constituição. Essa é a democracia deles: a exploração do povo pelo Congresso Nacional.
João Eichbaum é escritor e cronista
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