A história do 1º gay a sair do armário no Catar: "pensei que me matariam"
- Andressa Deuner
- 25 de jun. de 2022
- 3 min de leitura

Nas Mohamed teve que manter a homossexualidade em segredo por muitos anos para sobreviver no Catar, país onde nasceu, apesar de "saber disso desde pequeno".
"Lembro que eu tinha uns 11 ou 12 anos e já pensava nisso, mas não sabia o que realmente significava ser gay", diz ele, que hoje tem 35 anos, em entrevista à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.
"Não tinha acesso a nada. Não tinha internet, não tinha comunidade gay na minha cidade e não estava exposto a nada. Não entendia o que estava acontecendo comigo."
Inicialmente, ele decidiu ignorar e reprimir quaisquer pensamentos relacionados a sexo e sua orientação sexual.
"Não tinha acesso a nada. Não tinha internet, não tinha comunidade gay na minha cidade e não estava exposto a nada. Não entendia o que estava acontecendo comigo."
Inicialmente, ele decidiu ignorar e reprimir quaisquer pensamentos relacionados a sexo e sua orientação sexual.
Preferiu se concentrar nos estudos da faculdade de medicina e na religião; era uma pessoa "extremamente religiosa", que sabia o Alcorão de cor.
Assim, ele passou sua adolescência e os primeiros anos da vida adulta — durante os quais teve apenas de ignorar os conselhos de que deveria arrumar uma esposa.
"Muitos de nós somos pressionados a nos casar muito jovens, às vezes antes dos 20 anos. Para mim, o mais difícil foi tentar resistir à pressão ao meu redor para me casar", revela.
"Tinha que dar uma boa razão para não querer me casar, para que não suspeitassem."
Foi durante uma viagem a Las Vegas, aos 22 anos, que ele confirmou que era "definitivamente" gay. Em uma boate LGBT+, ele se sentiu realmente livre pela primeira vez.
"Percebi que não tinha nenhum tipo de tendência ou desejo de fazer sexo heterossexual. Fiquei em choque. Comecei então a ler e aprender mais sobre mim e o que significava ser homossexual", diz ele.
Mas depois de voltar ao Catar, ele teve de reprimir completamente o desejo sexual que havia despertado nele.
"Eu vivia com um medo constante. Pensei que me matariam se soubessem que sou gay, se isso se tornasse público. Os crimes de honra são muito tribais no Catar. Algumas famílias fazem isso, outras não, e o governo tenta não intervir."
Ao terminar a graduação em 2011, aos 24 anos, Nas tomou a decisão de se mudar "temporariamente" para os Estados Unidos, onde passaria três anos fazendo residência para concluir sua formação profissional como médico.
Nunca mais voltou.
Após concluir sua residência em um hospital em Connecticut e uma bolsa de pesquisa no Estado da Pensilvânia em 2015, ele solicitou asilo na Califórnia, dizendo que seria perseguido em seu país por causa de orientação sexual.
Ser gay no Catar
Nas afirma que não saiu do armário para contar sua própria história, mas para tornar conhecida a de todos os membros da comunidade LGBT+ no Catar.
"É muito perigoso sair do armário quando você é catariano, e estou me preparando para isso há meses", completa.
Ele conta que, por meio do seu trabalho recente como porta-voz da comunidade LGBT+ no Catar, percebeu o quão grande é a comunidade em seu país natal.
Mas todos ocultam sua sexualidade e têm medo de falar sobre o assunto ou confessar a alguém.
Segundo ele, isso acontece porque a polícia do Catar tem uma equipe dedicada a "caçar" pessoas LGBT+ — e quando encontram um membro da comunidade, pegam seu telefone e vasculham seus contatos para tentar localizar outros.
"Conheço gays que nem sequer sabem que outras pessoas próximas ao seu círculo são (gays), pois é muito perigoso para uma pessoa LGBT+ conhecer outra."
Ser gay é ilegal no Catar.
Fonte: G1
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