A imprensa foi fundamental para o desenvolvimento social, cultural e espiritual das colônias alemãs no Sul do Brasil. Nessas regiões de colonização, a considerável organização social e comunitária dos imigrantes e de seus descendentes, verificada desde meados do século XIX, foi acompanhada pela criação de uma imprensa voltada às comunidades, redigida na maior parte em língua alemã, constituída por cartilhas didáticas, livros, almanaques, jornais, periódicos e publicações de associações. Acima de tudo, era uma imprensa pedagógica, num sentido bastante amplo, que investia nesses formatos de mídias existentes na época (livros escolares, jornais, revistas, almanaques) para solidificar uma ação pastoral e educativa, na expectativa disso reverter nas práticas sociais desejadas.
O primeiro jornal em língua alemã do Rio Grande do Sul foi lançado em 1852 por José Cândido Gomes, em São Leopoldo, e se chamava Der Kolonist (O Colono). O objetivo de Gomes com seu jornal, que iniciou bilíngue, era conquistar eleitores alemães para o processo político que se avizinhava. Porém, naquele mesmo ano encerrou suas atividades, devido à indiferença da população, embora tenha prestado algum serviço aos imigrantes ao informar sobre a legislação brasileira, a agricultura, o comércio e a indústria.
O Der Bote (1867-1878), de Julius Curtius Filho e Wilhelm Rotermund, foi o primeiro jornal evangélico impresso em alemão, em São Leopoldo, cuja missão foi a de combater os privilégios políticos e religiosos dos alemães católicos, ao mesmo tempo em que se caracterizou pela oposição ao Deutsche Zeitung, de Carlos Von Koseritz, defensor de princípios liberais, que se manifestavam no campo filosófico, literário, religioso, político e econômico.
Mesmo não sendo impresso em São Leopoldo, muitas matérias e artigos do Deutsche Zeitung (1861-1917), de Carlos Von Koseritz, eram direcionadas aos alemães de São Leopoldo. As críticas aos católicos se davam, principalmente, nesse jornal, criado em Porto Alegre por um grupo de comerciantes de origem germânica. Neste periódico, o notável jornalista Karl Von Koseritz, difundia seus pensamentos, criticando as posturas católicas, dentro do seu perfil maçom e anticlerical. Este jornal destacou em suas páginas a importância da integração do colono com a pátria brasileira e desempenhou um papel bastante importante de incentivá-los a participarem da política partidária. As concepções de Koseritz incluíam a premissa fundamental de que os colonos de origem alemã e seus descendentes devessem ser absolutamente brasileiros, especialmente naquilo que dizia respeito à esfera política. Para ele, a participação ativa na política partidária brasileira não excluía o elemento cultural. Ao contrário, Koseritz passou a ditar uma postura que harmonizava o pensamento político-estatal e os indicadores étnico-culturais da germanidade, sem romper com os laços culturais da pátria d’além-mar.
No ano de 1881, o jornalista Koseritz se afastou do Deutsche Zeitung (1861- 1917) e fundou o Koseritz Deutsche Zeitung que, mais tarde, em 1906, se transformou no Neue Deutsche Zeitung.
Outro jornal editado em São Leopoldo foi o Deutsche Post (1880-1928), também de orientação protestante e com intensa circulação na mesma região de colonização alemã. Criado pelo já mencionado Pastor Wilhelm Rotermund, possuía caráter eclético na forma de apresentar conteúdos variados. Seu objetivo com a edição do jornal era a integração dos imigrantes alemães e seus descendentes, além da manutenção de sua herança cultural. Os jornais mencionados circulavam com edição semanal ou bissemanal, entretanto tinham dificuldades de chegar até seus leitores, especialmente nas colônias e picadas de difícil acesso.
Em março de 1871, fundou-se, em São Leopoldo, o primeiro jornal católico, o Deutsche Volksblatt (Gazeta Popular Alemã), para responder aos ataques dos evangélicos e dos maçons.152 O jornalista Jacob Dillenburg foi o seu editor e impressor até 1874. No ano seguinte, o jornal foi vendido para os padres jesuítas.153 Quando o jornal se tornou o porta-voz oficial do Partido Católico do Centro, passou à “Typographia do Centro”, uma sociedade anônima cujos redatores eram Clemens Wallau, Hugo Metzler e Josef Koenig.
Nas crônicas de 06 de novembro de 1871, dos padres jesuítas do Colégio Conceição de São Leopoldo, consta que:
“O jornal ‘Deutsche Volksblatt’, nas últimas semanas, teve de lutar muito em defesa do Papa e da Igreja, contra o redator Koseritz do jornal ‘Deutsche Zeitung’ (jornal alemão), que sempre espuma novas blasfêmias. A autoridade dele entre os protestantes está decaindo. O jornal ‘Bote’ (mensageiro) é menos agressivo e de menor importância. O colega Dillenburg começou a editar aqui.”
Ainda referente ao Deutsches Volksblatt, consta nas crônicas dos padres jesuítas do Colégio Conceição, com data de 26 de dezembro de 1890, que o maquinário e mais alguns utensílios da tipografia, exceto a máquina, pertencentes ao jornal Deutsches Volksblatt, foram transportados de trem para Porto Alegre. Esse jornal foi redigido pelo P. Mathias Müsch por quase 20 anos, primeiro em parte, mas desde 1875,
“quando se tornou propriedade nossa, exclusivamente (o próprio P. Mathias escreve o diário). Em Porto Alegre terá novos proprietários. Por ora está a cargo de uma comissão de católicos. Sua existência é necessária no meio de tantos jornais contrários à religião católica. O número 103 foi o último impresso por nós, a 26 de dezembro. Os assinantes são uns 900.”
Fonte: Histórias de São Leopoldo: dos povos originários às emancipações, de Felipe Kuhn Braun e Sandro Blume/ Pesquisa Bado Jacoby
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